Background Image
Previous Page  124 / 218 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 124 / 218 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 114 - 127, out. - dez. 2016

124

desconhecimento do potencial tóxico das drogas proibidas.

Overdoses

acontecem, na maior parte dos casos, em razão do desconhecimento da-

quilo que se está consumindo.

Por outro lado, a ilegalidade cria a necessidade de aproveitamento

imediato de circunstâncias que permitam um consumo que não seja des-

coberto, o que incentiva a falta de cuidados e higiene, com consequências

que aparecem especialmente na difusão de doenças transmissíveis como

a Aids e a hepatite. Além de criar a atração do proibido, acabando por

incentivar o consumo por parte de adolescentes, a proibição dificulta o

diálogo e a busca de esclarecimentos e informações entre estes e seus

familiares e educadores. A proibição ainda dificulta a assistência e o tra-

tamento eventualmente necessários, seja ao impor ineficazes e ilegítimas

internações compulsórias, seja ao inibir a busca voluntária do tratamento,

por pressupor a revelação da prática de uma conduta tida como ilícita.

Muitas vezes, essa inibição tem trágicas consequências, como em episó-

dios de

overdose

em que o medo daquela revelação paralisa os compa-

nheiros de quem a sofre, impedindo a busca do socorro imediato.

A proibição e sua guerra provocam danos ambientais, seja direta-

mente com a erradicação manual das plantas proibidas ou pior, com as

fumigações aéreas de herbicidas sobre áreas cultivadas, como ocorreu e

ainda ocorre na região andina, seja indiretamente, ao provocar o desflo-

restamento das áreas atingidas e levar os produtores a desflorestar novas

áreas para o cultivo, geralmente em ecossistemas ainda mais frágeis.

É preciso promover uma profunda reforma das convenções interna-

cionais e das legislações internas, para pôr fim à ilegítima, irracional, noci-

va e sanguinária política de ‘guerra às drogas’, que, além de não funcionar

em sua inviável pretensão de salvar as pessoas de si mesmas, produz de-

masiada violência, demasiadas mortes, demasiadas prisões, demasiadas

doenças, demasiada corrupção, demasiadas discriminações, demasiada

opressão, demasiadas violações a direitos humanos fundamentais.

É preciso legalizar e consequentemente regular e controlar a produ-

ção, o comércio e o consumo de todas as drogas.

Legalizar não significa permissividade ou liberação, como insinuam

os enganosos discursos dos partidários da fracassada e danosa proibição.

Ao contrário. Legalizar significa exatamente regular e controlar, o que hoje

não acontece, pois um mercado ilegal é necessariamente desregulado e

descontrolado. Aliás, poder-se-ia mesmo dizer que ‘liberado’ é exatamen-