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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 114 - 127, out. - dez. 2016

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te esse mercado que floresce na ilegalidade imposta pela proibição: ao

contrário do que acontece em um mercado legalizado, os chamados ‘tra-

ficantes’ não estão submetidos a qualquer controle ou fiscalização sobre a

qualidade dos produtos que fornecem; para obter maiores lucros, podem

misturar a droga produzida e comercializada a outras substâncias ainda

mais nocivas; não precisam informar qual o potencial tóxico da droga

produzida e comercializada; não precisam fazer qualquer esclarecimento

ou advertência aos consumidores sobre os riscos de seus produtos; esta-

belecem preços livremente; não pagam quaisquer impostos; não estão

sujeitos a legislações trabalhistas, podendo empregar, como de fato em-

pregam, até mesmo crianças em suas atividades de produção e comércio;

vendem seus produtos onde quer que estejam consumidores; não pre-

cisam controlar a idade dos compradores. Legalizar significa pôr fim ao

‘tráfico’, afastando do mercado esses descontrolados e ‘liberados’ agentes

que agem na clandestinidade e devolvendo ao Estado o poder de regular,

limitar, controlar, fiscalizar e taxar a produção, o comércio e o consumo

dessas substâncias, da mesma forma que o faz em relação às drogas já

lícitas, como o álcool e o tabaco.

Legalizar tampouco significa que haveria um aumento incontrolável

do consumo, como muitos temem. Não há qualquer indicação concre-

ta de que isto poderia acontecer. Ao contrário. Pesquisa realizada pelo

Zogby, nos Estados Unidos da América, em dezembro de 2007, registrou

99% de respostas negativas à indagação sobre se, uma vez legalizadas dro-

gas como cocaína ou heroína, os entrevistados passariam a consumi-las,

assim se projetando um consumo de tais substâncias em proporções se-

melhantes às já ocorrentes. Na Holanda, onde o consumo de derivados

da

cannabis

é acessível nos tolerados

coffee-shops

, o percentual de seus

consumidores entre jovens sempre foi bastante inferior ao registrado nos

Estados Unidos da América, considerado especialmente período anterior

às graduais e parciais reformas que vêm atenuando o enfoque repressivo

nesse país

16

.

Vale notar que a única diminuição significativa no consumo de dro-

gas, nos últimos anos, foi de uma droga legalizada: o tabaco, cujo consu-

16 Em 2004/2005, o percentual de consumidores (consumo recente: prevalência no último ano) entre jovens de

15 a 24 anos na Holanda girava em torno de 12%, enquanto nos Estados Unidos da América esse percentual girava

em torno de 27% entre os jovens de 18 a 25 anos. Na prevalência na vida, os percentuais eram respectivamente de

28% e 41%. Fontes: European Monitoring Center for Drugs and Drug Addiction (2005); Substance Abuse and Mental

Health Services Administration (SAMHSA): National Survey on Drug Use and Health (2004-2005).