

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 309 - 347, Maio/Agosto 2017
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comunicarem, “marcam posições” por meio de afirmações e objeções. As
palavras, em geral, e os textos normativos, em particular, sempre serão
os indicadores mais sensíveis de todas as transformações sociais, mesmo
daquelas que ainda não abriram caminho para sistemas ideológicos es-
truturados e bem-formados.
115
Em síntese: se a razão não pode determinar a verdade da última ca-
mada da ação discursiva, a saber, a motivação final para o ato (leia-se: a
escolha do significado “correto”), ela pode, diante às questões práticas, for-
necer importantes subsídios: i) para a
delimitação
do seu contexto; ii) para
a
identificação
das relações de poder em jogo; e iii) para a
determinação
das
ideologias dos sujeitos envolvidos.
8.2. Detectando a Validade do Argumento
Um processo argumentativo nada mais é que uma interação entre
dois ou mais participantes, na qual cada um deles alega que seus argumentos
podem ser justificados. Num processo argumentativo é comum que estejam
presentes diversos argumentos. Na prática, os argumentos costumam ser ma-
croestruturas formadas por argumentos menores (ou subargumentos).
116
Nesse particular, a primeira tarefa da razão humana é justamente
identificar e formular com clareza cada um desses argumentos. Seja curto
ou extenso, cada argumento sempre oferece um núcleo semântico, sendo
este (o núcleo semântico) entendido como um conjunto de proposições
formadas por uma ou mais conclusões e alguns conjuntos de premissas.
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Essas proposições, por sua vez, indicam – ou melhor, têm a pretensão de in-
dicar – uma unidade de linguagem verdadeira. Logo, cada proposição, como
unidade de linguagem, pode ser verdadeira ou falsa.
Dessa forma, um conjunto coerente de proposições (unidade de lin-
guagem com pretensão de correção) forma um argumento. Desse modo, a
validade de qualquer argumento depende: i) da verdade (ou validade) de suas
proposições; ii) da validade formal do argumento obtido por estas proposi-
ções (objeto da lógica formal); e iii) da ausência de proposições enganosas,
introduzidas no argumento para ratificar desde logo a conclusão desejada
(objeto da lógica informal).
115 BAKHTIN, Mikhail.
Marxismo e Filosofia da Linguagem
. 11ª ed., São Paulo: Hucitec, 2004, p. 41.
116 WALTON, Douglas N..
Lógica Informal
. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 160.
117 Idem, p. 151.