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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 242-247, Maio/Agosto. 2017

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A par de tais possibilidades, deve-se destacar que a mais árdua tarefa a

ser cumprida seria invariavelmente a abertura do campo de visão dos aplica-

dores do Direito, sejam eles Juízes, Defensores ou Promotores.

Cita-se, nesse aspecto, por ser bastante esclarecedor, o seguinte trecho

de recentíssima reportagem do jornal Le Monde Diplomatique Brasil de 26

de janeiro de 2017 (“JUSTIÇA RESTAURATIVA – ALIVIAR AS VÍTIMAS

SEM BANIR OS CULPADOS”), de autoria de Léa Ducré e Margot Hemme-

rich, em que abordam o modelo francês de JR.

“Mas 'os profissionais procuram segurança. Eles recorrem a

procedimentos que conhecem', observa Breton. 'Até o momen-

to, o conjunto não está claro; são noções ainda um pouco con-

fusas.' Para além de sua falta de visibilidade, a justiça restaurati-

va pode suscitar preocupações, pois coloca em questão o papel

do juiz. O ex-magistrado de Lyon, agora instalado em Rouen,

reconhece que, em algumas situações, sua intervenção não for-

nece uma solução satisfatória: 'Tomar uma decisão, isso eu sei

fazer; mas, às vezes, uma decisão causa tanto dano quanto o

próprio litígio'. De fato, a intervenção da justiça muitas vezes

se revela contraproducente para a resolução de conflitos que

envolvem pessoas em situação de interdependência – vizinhos,

familiares ou colegas, por exemplo. A pena é aplicada, mas o

conflito permanece, exacerbado. A filosofia restaurativa admite

que os profissionais da justiça não podem agir sozinhos, per-

turbando o sentido da pena.

No direito moderno, a infração aparece em primeiro lugar

como a violação de uma regra: um ato repreensivo contra o

Estado. É ele que pune. Um processo de justiça restaurativa

concentra-se no restabelecimento das relações, sem necessa-

riamente solicitar uma intervenção do Estado. Em Poissy,

Goetz não é o único a lamentar a ilusão do encarceramento

generalizado: 'Abrimos mais prisões para resolver o problema

da delinquência e do crime, quando ninguém no meio acredita

nisso! No entanto, aplicar uma medida restaurativa significa

ser imediatamente acusado de laxismo'.”

O grande temor que inspira a JR segue exatamente essa linha, pois

tais práticas têm como princípio respeitar o ser humano como ser social, ao