

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 181 - 203, Maio/Agosto. 2017
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2. HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO.
Quem pretende compreender algo que se manifeste pela linguagem
encontra-se com a tarefa da interpretação. Todo aquele que compreen-
deu algo já o interpretou; todo aquele que ainda não o compreendeu,
ou parou de interpretar – e não o compreenderá –, ou está interpre-
tando, porque o quer compreender. Nada é compreendido sem que
se tenha passado por uma interpretação. Deve-se, portanto, buscar
pela interpretação – conhecendo-a – o caminho para a compreensão.
6
Ao homem é inevitável buscar compreender algo.
7
Todo e qualquer
objeto ao alcance da mente humana é assujeitado pela busca humana pela
compreensão. “Desde que acordamos de manhã, até que adormecemos, esta-
mos a ‘interpretar’.”
8
A hermenêutica, tal como é conhecida hoje, nasceu como um pro-
jeto cuja finalidade era “fornecer uma justificação dos princípios do pro-
cedimento com a maior exatidão possível, para avançar com segurança na
interpretação”
9
de uma interpretação universal.
10
A hermenêutica teoriza a interpretação. Ou um estudo de métodos
de, para e sobre a interpretação. A partir daquela, traçam-se estratégias com
o fim de adequarem-se os procedimentos interpretativos ao objetivo desta,
que é a compreensão de uma fala alheia.
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Como teoria da interpretação, hermenêutica e interpretação não se
confundem. Apesar disso, são interdependentes. Assim como o Direito e a
sociedade são distintos mas interdependentes – o que se reflete no adágio
latino
ibi societas, ibi jus
–, delas pode-se afirmar metaforicamente o mesmo:
onde está a interpretação, lá está a hermenêutica.
A Hermenêutica não está aí como processo mental para compreen-
der-se algo, mas como ciência para determinar processos hábeis a
determinar-se a compreensão ou a melhor compreensão sobre esse
6 BASTOS, op. cit., p. 38.
7 Nesse sentido, ORLANDI, Eni P.
Interpretação
: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5ª ed., Campinas-SP:
Pontes Editores, 2007, p. 65.
8 PALMER, Richard E.
Hermenêutica
. Tradução de Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1969, p. 20.
9 SCHLEIERMACHER, Friedrich D. E.
Hermenêutica – arte e técnica da interpretação
. Tradução de Celso Reni
Braida. 8ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010, p. 25.
10 Nesse sentido, ibidem, passim; SCHMIDT, Lawrence K.
Hermenêutica
. Tradução de Fábio Ribeiro. 3ª ed. Petró-
polis-RJ: Vozes, 2014, p. 25.
11 Nesse sentido, SCHLEIERMACHER, op. cit., p. 26.