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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 168 - 187, Janeiro/Abril 2017
Independentemente do movimento pendular pós-crise de 2008, o pró-
prio processo de desestatização foi acompanhado de choques de gestão no
aparelho estatal, inclusive nas estatais; o próprio rumo da história, desde a
década de 1990, faria com que as empresas do Estado evoluíssem no sentido
de uma maior eficiência e lógica de mercado.
Hoje, aliás, já estamos em pleno momento de um novo movimen-
to do pêndulo da relação do Estado com a economia, com déficits fiscais
que estão levando o Estado a alienar participações em empresas ou a, pelo
menos, não adquiri-las mais. A tudo isso se acresce o desgaste ou derrota
eleitoral de governos latino-americanos de viés mais intervencionista, bem
como o esgotamento das medidas intervencionistas tomadas em países do
capitalismo mais avançado durante a crise de 2008, mas que agora já cum-
priram sua função, tendo o Estado retornado para o mercado uma série de
participações então adquiridas.
Até pela hiperaceleração do tempo inerente à pós-modernidade, tam-
bém chamada de compressão espaço-temporal, é possível que o movimento
pendular da relação do Estado com a economia, que antes variava por um
espaço de duas ou mais décadas, esteja variando por lapsos temporais mais
curtos, ou que, talvez, esteja havendo até mesmo a fusão desses diferentes
movimentos, que deixariam de ser sucessivos, ainda que por espaços de tem-
po menores, para passarem a ser paradoxalmente concomitantes.
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De toda sorte, independentemente de em determinado momento ter-
mos mais ou menos atuação direta do Estado na economia, o fato é que a
globalização e as dela derivadas desestatização e liberalização dos mercados
colocaram as estatais em um novo contexto extremamente modificado, pas-
sando a conviver em um mercado com concorrentes, inclusive internacio-
nais, concorrentes estes que muitas vezes também se tornam parceiros para
facilitar a sua expansão e mitigar a assunção de riscos.
Essas circunstâncias, independentemente de movimentos pendulares
episódicos, prevalecerão pelo menos no médio prazo, uma vez que pelo
as empresas estatais na bolsa de valores de modo a continuar com o controle e atrair investidores privados minoritários.
Nos modelos de participação minoritária do Estado, há maior renúncia do controle estatal em suas empresas, embora haja
ampla previsão de empréstimos realizados por bancos de desenvolvimento ou instituições financeiras públicas às empre-
sas privadas. A respeito, MUSACCHIO, Aldo; LAZZARINNI, Sergio G.
Reinventing State Capitalism:
Leviathan in
Business Brazil and Beyond. Massachusetts: Harvard University Press, 2014. p. 2, 8,9.
76 Não é o caso de nessa oportunidade nos aprofundarmos nas discussões sobre a pós-modernidade. Mas para os autores
que a defendem está havendo uma fusão entre passado, presente e futuro, que se unem e formam um presente contínuo,
com o futuro nele permanentemente se introduzindo. Hoje todo o sistema econômico acaba “introduzindo o tempo
futuro no tempo presente de maneiras estarrecedoras”. HARVEY, David.
Condição pós-moderna.
11. ed. São Paulo:
Loyola, 2002. p. 154.