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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 168 - 187, Janeiro/Abril 2017

dos e, principalmente, das recentes e fortes falhas do mercado seguidas por

uma série de resgates estatais durante a recessão de 2008-2010”.

61

Alguns pensadores, sobretudo após a crise de 2008, vêm sustentando

estarmos, apesar das variações de país a país,

62

em um momento de retorno

do pêndulo da relação Estado/Direto-Economia/Mercado, com o aumento

da participação do Estado na economia como agente do mercado, tudo, no

entanto, em uma nova conjuntura.

IAN BREMMER, por exemplo, trazendo dados sobre a grande

presença do Estado na economia nas últimas décadas, presença esta que

teria sido apenas mitigada durante os processos de privatização das dé-

cadas de 1980/1990,

63

se refere ao atual momento como de advento de

um “Capitalismo de Estado”,

64

enumerando as seguintes fases até o mo-

mento de aparente ápice: 1ª) o poder econômico e geopolítico adquirido

pelos Estados produtores de hidrocarbonetos, a partir da crise do petróleo

de 1973;

65

2ª) a ascensão de governos com uma visão estadocêntrica da

sociedade; 3ª) a adoção do capitalismo pelos países do leste europeu, que

mantiveram grande poder direto (através de estatais) ou indireto (através

de mecanismos societários ou de subsídios) sobre a economia, mas agora

com forte influência sobre o capitalismo globalizado, o qual passaram

a integrar; 4ª) com a crise de 2008/2009, o aumento da regulação e

fomento estatais, com apoio aos chamados “campeões nacionais” (grandes

empresas nacionais, geralmente exportadoras),

66

e até mesmo a estatização

de companhias através da assunção pelo Estado do controle de empresas

que estavam em vias de quebrar (ex., algumas instituições financeiras e a

General Motors nos EUA

67

).

61 AMATORI, Franco; MILLWARD, Robert; TONINELLI, Pier Angelo.

Reappraising State-owned Enterprise.

New York – London: Routledge, 2011, p. 03.

62 BLACK, Julia. Learning from Regulatory Disasters (November 6, 2014).

LSE − Legal Studies Working Paper

N.

24/2014. p. 8.

63 No Brasil, por exemplo, o Estado detém 40% do mercado bancário, da produção de petróleo e de 70% da geração de

energia. LEITÃO, Mirian; ZANELLI, Leonardo. Capitalismo estatal.

O Globo

(2009) – Link:

http://oglobo.globo.com/

economia/miriam/posts/2009/05/03/capitalismo-estatal-182005.asp, último acesso: 09/01/2015.

64 BREMMER, Ian. State Capitalism Comes of Age. The End of the Free Market?.

Foreign Affairs

, v. 88, nº 3, maio/

jun. 2009.

65 As empresas estatais controlam mais de três quartos das reservas de petróleo conhecidas no planeta. New masters of

the universe. Revista “The Economist”. Publicado na edição de 21-27 de jan. 2012, Special Report, p. 6.

66 RIGOLON, Francisco José Zagari.

A retomada do crescimento e o papel do BNDES.

BNDES, maio 1996; GON-

ÇALVES, Mariana Jesus Lourenço. Os efeitos do financiamento do BNDES sobre o lucro e o crescimento das empresas.

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas para a

obtenção do grau de Mestre. Rio de Janeiro, 2013.

67 Sobre as empresas controladas pelo Estado nos EUA após a crise de 2008, ver KAHAN, Marcel; ROCK, Edward B.

When the Government is the Controlling Shareholder.

Texas Law Review,

v. 89:1293.