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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 168 - 187, Janeiro/Abril 2017

Grande parte desse apoio tem se dado através da participação acio-

nária do Estado em empresas privadas, mas ficando com parte minori-

tária do capital, às vezes acompanhada de

golden shares

(

e.g.

, o apoio

dado pelo Governo francês à indústria de automóveis, mas obtendo em

troca inclusive

golden share

para evitar que ela transfira suas fábricas

para outros países).

68

Segundo DANI RODRIK, os governos, as empresas estatais e a atua-

ção direta do Estado na economia têm papel importante a desempenhar, es-

timulando o desenvolvimento econômico e possibilitando que os mercados

funcionem bem.

69

As visões econômicas, a respeito da atuação do Estado na

economia, são muito polarizadas.

O termo adotado por IAN BREMMER, como visto acima e em voga

em vários círculos,

70

“capitalismo de Estado”

71

, é um pouco exagerado, pelo

menos nos países ocidentais, que apenas aumentaram a sua atuação na eco-

nomia. O que vemos é mais um momento do eterno movimento pendular

do Estado em relação à economia, lembrando que, tanto em momentos libe-

ralizantes como em opostos,

o pêndulo volta para o lado anterior, mas

em uma posição diferente

. O processo de expansão e contração da atuação

estatal na economia acontece de maneira pendular ou cíclica, e

a cada novo

ciclo, a forma de atuação do Estado se modifica

.

Isso acontece porque o crescimento econômico não é necessaria-

mente equilibrado e o aumento da presença do Estado pode gerar disfun-

cionalidades e retração do desenvolvimento econômico. No momento

em que o excesso de intervenção estatal começa a gerar consequências

demasiadamente nocivas ao crescimento econômico, há uma tendência

68 Sob a mesma perspectiva, em obra cuja parte final do seu título é por si só eloquente, PISANESCHI, Andrea,

Dallo

Stato Imprenditore allo Stato Regolatore e Ritorno?

, Ed. Giappichelli, Torino, 2009. O autor, às páginas 161 e seguin-

tes faz interessante observação como o aumento da atuação do Estado na economia para ajudar empresas em crise deve

ser mais parcimoniosa para empresas que não sejam de caráter financeiro, já que em relação a elas acabam inevitavelmente

havendo critérios discriminatórios em relação a outras empresas também em dificuldade. Já em relação à ajuda do Estado

a instituições financeiras o autor é mais complacente, pois o Estado tem o papel de garantidor de “última instância” da

moeda.

69 RODRIK, Dani.

One Economics Many Recipes:

Globalization, Institutions and Economic Growth. New Jersey:

Princeton University Press, 2007. p. 99-101.

70 SZAMOSSZEGI, Andrew; KYLE, Cole.

An Analysis of State-owned Enterprises and State Capitalism in Chi-

na.

Washington DC: US-China Economic and Security Review Comission.

71 Lazzarinni indica que o termo capitalismo de Estado é relacionado às novas formas de governança, em que o Estado

atua conjuntamente com os investidores privados. Ele define mais precisamente o conceito como “ampla influência do

governo na economia, seja por possuir participação majoritária ou minoritária em empresas, seja por fornecer crédito sub-

vencionado ou outros privilégios para empresas privadas”. Ainda, segundo o autor, nessa nova forma de capitalismo de

Estado os governos não mais gerenciam ou possuem as empresas como extensão da burocracia pública. MUSACCHIO,

Aldo; LAZZARINNI, Sergio G.

Reinventing State Capitalism

: Leviathan in Business Brazil and Beyond. Massachu-

setts: Harvard University Press, 2014. p. 2.