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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 78, p. 168 - 187, Janeiro/Abril 2017

ideológicas, pois parte do pensamento de esquerda via a estatização de

empresas como uma etapa do seu desejado processo de socialização,

44

cen-

trando-se na prestação de serviços públicos econômicos e em atividades

consideradas estratégicas, como energia elétrica, telecomunicações, aviação

e indústria de base.

45

No Brasil, porém, a grande expansão das empresas estatais ainda

estava por vir. Ao final da década de 1960 e ao longo da década de 1970

houve, além de um crescimento expressivo, uma diversificação por meio

de subsidiárias, surgindo

holdings

empresariais públicas setoriais, que au-

mentaram o leque das atividades das estatais: no setor de energia, a Ele-

trobras; a Telebras, nas telecomunicações; na siderurgia, a SIDEBRAS; no

petróleo, a Petrobras; e na mineração, a Vale do Rio Doce.

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Mesmo esta-

tais já existentes, mas de maneira atomizada, foram se transformando em

holdings

públicas, controlando uma série de outras empresas.

Apesar de ao longo das épocas e dos países haver algumas razões co-

mumente invocadas para justificar a atividade empresarial do Estado, como

as estratégicas e as de falta de interesse da iniciativa privada, não existe um

critério único para identificá-las, tendo em grande parte se dado por razões

políticas casuísticas e pragmáticas. “Muitos fatores explicam a escolha de na-

cionalização de empresas privadas ou o estabelecimento de empresas estatais

ou empresas gerenciadas pelos Estados”. Algumas vezes “

os motivos para

essa escolha são múltiplos, e algumas vezes esses motivos não são cla-

ramente definidos ou são até mesmo contraditórios

”.

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Não obstante

a indeterminação, TONINELLI indica três razões que historicamente

privado para modificar as relações de mercado – o estabelecimento de empresas públicas e sociedades de economia mista

seria um exemplo dessa tendência. CARVALHOSA, Modesto Souza Barros.

Direito Econômico.

São Paulo: Ed. Revista

dos Tribunais, 1973. p. 145.

44 A atuação direta do Estado na economia, por meio das empresas estatais, foi fundamental nas economias comunistas

e para as democracias sociais do ocidente. “Os programas de estatização eram baseados na crença de que o aumento das

propriedades públicas poderia abrir o caminho para uma mudança fundamental na distribuição de poder na sociedade, ge-

rando, assim, um novo equilíbrio socioeconômico baseado na diminuição de poder do capital privado e o crescimento do

poder do trabalho”. TONINELLI, Pier Angelo.

The rise and fall of state-owned enterprise in the Western World.

New York: Cambridge University Press, 2000. p. 5-6.

45 Em muitos países ocidentais, a era das grandes estatizações aconteceu nas três décadas subsequentes à grande depres-

são; todavia, no pós-Primeira Guerra Mundial, já se pode observar expressiva intervenção direta do Estado na economia

tanto em atividades já existentes como na criação de novas empresas. O maior investimento dos Estados ocorreu nas

áreas de comunicação (correio, telégrafo, telefone), petróleo e transporte aéreo. Para mais detalhes sobre essas empresas

estatais cf. TONINELLI, Pier Angelo.

The rise and fall of state-owned enterprise in the Western World.

New York:

Cambridge University Press, 2000. p. 14-17.

46 BAER, Werner; KERSTENETZKY, Isaac; VILLELA, Annibal As modificações do papel do Estado na economia

brasileira.

Pesquisa e Planejamento Econômico.

Rio de Janeiro, IPEA, 3(4):883-972, p. 896-897, dez. 1976.

47 TONINELLI, Pier Angelo.

The rise and fall of state-owned enterprise in the Western World.

New York: Cam-

bridge University Press, 2000. p. 5 − grifamos.