Background Image
Previous Page  112 / 236 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 112 / 236 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 77, p. 101 - 129, Janeiro 2017

112

ou não configurados de forma adequada, não se revela razoável

no plano jurídico a mudança do critério da racionalidade deci-

sória, substituindo padrões jurídicos por critérios éticos. Num

segundo momento, ainda que na presença da possibilidade de

risco e incerteza científica, deverá o intérprete buscar a compa-

tibilização do princípio da precaução com os demais valores

constitucionais, sob pena de provocar dano inverso”

16

.

Quando se tratar de procedimento prévio de identificação e

avaliação de risco em caso concreto,

PAULO AFFONSO LEME MA-

CHADO

pondera:

“O princípio da precaução não se aplica em um procedimento

prévio de identificação e avaliação de riscos. Empregar somen-

te a expressão princípio da precaução, sem embutir em seu

conteúdo o risco e dimensionamento, através de avaliação de

risco, soa vazio e sem real significado”

17.

No mesmo sentido alerta o

COMUNICADO DA COMISSÃO

DA COMUNIDADE EUROPEIA

- “a invocação do princípio da pre-

caução é uma decisão exercida quando a informação científica é

insuficiente, não conclusiva ou incerta”

18

.

E acerca da incerteza, pontifica

PAULO AFFONSO LEME MA-

CHADO

que o incerto não é algo necessariamente inexistente, po-

dendo ser definido ou não, ter suas dimensões ou o seu peso ainda

claramente apontados. O incerto não pode ser uma hipótese, algo

que não foi ainda verificado ou não foi constatado. Nem por isso, o

incerto deve ser descartado de imediato. O fato de o incerto não ser

conhecido ou de não ser entendido aconselha que ele seja avaliado

ou pesquisado

19

.

Justamente pelo grau variável da incerteza, intrínseco ao prin-

cípio da precaução, revela-se essencial a análise dos riscos, sob pena

de se desprestigiar o avanço científico, imprescindível ao desenvol-

16

Ibidem

, p. 224-225.

17 MACHADO, Paulo Affonso Leme. "O princípio da precaução e a avaliação de riscos".

Revista dos Tribunais

, ano

96, v. 858, fev. 2007, p. 43.

18 Comunicado da Comissão da Comunidade Europeia relativo ao princípio da precaução. Bruxelas, 2000.

19 MACHADO,

op. cit

., p. 37.