Background Image
Previous Page  105 / 236 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 105 / 236 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 77, p. 101 - 129, Janeiro 2017

105

1992, cujo item 15 focaliza o aludido princípio nos seguintes termos:

“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precau-

ção deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo

com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sé-

rios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica

não deve ser utilizada como razão para postergar medidas

eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação

ambiental.”

Tal sede internacional leva

PAULO DE BESSA ANTUNES

a

alertar que a interpretação do princípio da precaução há de basear-se

na capacidade de cada nação para implementá-lo. Assim:

“uma primeira exegese do texto do princípio n. 15 da Decla-

ração do Rio nos indica que: (

i

) o critério da precaução não

é um critério (princípio) definido pela ordem internacional,

mas, ao contrário, é um princípio que se materializa na ordem

de cada Estado, na exata medida das capacidades dos diferentes

Estados. Ou seja, a aplicação de tal princípio deve levar em

conta o conjunto de recursos disponíveis em cada um dos Esta-

dos para a proteção ambiental, considerando as peculiaridades

locais. Em outras palavras, as medidas adotadas para prevenir

a poluição atmosférica em Hamburgo não são as mesmas ne-

cessárias para uma pequena cidade no interior da Costa Rica;

(

ii

) a dúvida sobre a natureza nociva de uma substância não

deve ser interpretada como se não houvesse risco. A dúvida,

entretanto, não se confunde com a mera opinião de leigos ou

“impressionistas”. A dúvida, para fins de que se impeça uma

determinada ação, é fundada em análises técnicas e científicas,

realizadas com base em protocolos aceitos pela comunidade

internacional. O que tem ocorrido é que, muitas vezes, uma

opinião isolada e sem a necessária base científica tem servido

de pretexto para que se interrompam projetos e experiências

importantes. Dúvida é um elemento fundamental no avanço

da ciência, pois sem ela ainda acreditaríamos na quadratura

da Terra. Todo conhecimento científico é sujeito à dúvida. O

que não admite a dúvida é o dogma religioso, que pertence a