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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 62 - 71, out. - dez. 2016

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ternar” uma criança, lembrando ainda que não é apenas o amor mater-

no que leva uma mãe a cumprir seus deveres maternais, havendo outros

fatores tais como a moral, os valores sociais e religiosos que influenciam

e, às vezes, podem até mesmo prevalecer sobre desejo da mãe. Badinter

conclui que “o amor materno é apenas um sentimento humano. E como

todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito.” (p. 21).

A ideia de maternidade, tal como foi construída, é entendida como

um sacerdócio, uma experiência feliz que implica também necessaria-

mente dores e sofrimentos. Um real sacrifício de si mesma. Ainda hoje é

forte a presença de tais valores em nossa sociedade, que vê com natura-

lidade e pouco questionamento esse papel vinculado às mães, e que traz

junto toda uma estrutura política, social e até mesmo arquitetônica que

vinculam às mães – e somente a elas - o cuidado de seus filhos, como no

caso em questão da colocação de fraldário apenas no banheiro feminino.

CONCLUSÃO

Para Engels a família terá de progredir na medida em que a socie-

dade progride, terá de mudar na medida em que a sociedade se modifi-

ca, exatamente como aconteceu no passado. Ela é um reflexo do sistema

social e refletirá sua cultura. Como a família se aperfeiçoou consideravel-

mente nos tempos modernos e hoje as diversas formas de família bro-

tam e nos surpreendem a cada momento, é de esperar que esse contínuo

aperfeiçoamento alcance, ou ao menos caminhe, para a eliminação da

hierarquia entre os gêneros.

O fato - aparentemente simples - de um fraldário estar localizado

em um banheiro feminino, ou mesmo próximo a este, não é nem pode ser

visto como mero acaso ou um detalhe de menor importância. Esse arranjo

arquitetônico está contido na lógica de um sistema que reforça e se esfor-

ça, diariamente, em cada detalhe, em manter a cultura patriarcal intacta.

As vozes insurgentes que podem e devem partir de todas as mulheres e

também dos homens - tal como na recente campanha da ONU Mulheres

“ElesPorElas”

HeForShe

, que procura envolver homens e meninos na pro-

moção dos direitos das mulheres - invocam o desejo de uma sociedade

mais igualitária, na qual o cuidado do lar e a criação dos filhos seja uma

atividade dividida de forma equitativa pelo casal.