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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 62 - 71, out. - dez. 2016

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Destaca a autora o grande papel da mídia na construção desse ideal

de vida:

“esta mística de realização feminina tornou-se o centro que-

rido e intocável da cultura americana contemporânea. Mi-

lhões de mulheres moldavam sua vida à imagem daquelas

bonitas fotos de esposa suburbana beijando o marido diante

do janelão de casa, descarregando um carro cheio de crian-

ças no pátio da escola e sorrindo ao passar o novo espalha-

dor de cera no chão de uma cozinha impecável. Faziam pão

em casa, costuravam a roupa da família inteira e mantinham

a máquina de lavar e secar em constante funcionamento.

Mudavam os lençóis duas vezes por semana, em lugar de

uma só, faziam cursos de tapeçaria e lamentavam suas po-

bres mães frustradas, que haviam sonhado em seguir uma

carreira. Seu sonho único era ser mãe e perfeita. Sua mais

alta ambição, ter cinco filhos e uma bonita casa. Sua única

luta, conquistar e prender o marido. Não pensavam nos pro-

blemas do mundo para além das paredes do lar e, felizes em

seu papel de mulher, desejavam que os homens tomassem as

decisões mais importantes, e escreviam, orgulhosas, na ficha

de recenseamento ‘ocupação: dona de casa’ ”

(idem, p. 20).

A propaganda - que hoje ainda se encontra presente em “comer-

ciais de margarina” - tenta convencer que a felicidade está ao alcance da

dona de casa. Mesmo com conforto material e ainda que realizados os

sonhos do matrimônio e da maternidade, um alarmante número de mu-

lheres americanas permaneciam infelizes e profundamente perturbadas

por um problema sem nome, conforme alertava Friedan já na década de

60 (

ibidem

, p. 21 a 31).

O MITO DO AMOR MATERNO E A QUESTÃO: EVA

VERSUS

MARIA

A maternidade na sociedade moderna tende a ser tratada como

tema sagrado. Percebe-se, historicamente, a identificação da mulher com

dois grandes símbolos religiosos que nos levam a refletir quais são os va-

lores e os preconceitos que estão colocados em nossa sociedade, ora de