

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 128 - 131, out. - dez. 2016
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tica. Getúlio morto continuava nos braços do povo. No campo eleitoral,
os dois partidos, PDS e PTB, ultrapassado o curto momento de Café Filho,
com seus candidatos, Juscelino Kubtschek e João Goulart, já naquela al-
tura imbatíveis. A campanha da direita recrudesceu e tudo se fez para
impedir a candidatura de Juscelino e, eleito ele, evitar a sua posse, ga-
rantida afinal pelo então Ministro da Guerra , Mal. Henrique Duffles Lott.
Salvou-se formalmente a democracia, mas o projeto golpista continuou
seu curso. Vem o governo de Jânio Quadros e como vice-presidente João
Goulart. Tem-se a renúncia de Jânio e a direita, com presença mais atu-
ante do capital internacional, não pode suportar que Jango assumisse o
poder. Na ocasião estava ele na China. No Rio Grande do Sul o governador
Leonel Brizola resiste e, principalmente, a classe trabalhadora já organi-
zada na primeira CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) mobiliza-se a
favor da posse de João Goulart e acabam vitoriosos, não sem antes aceitar
a mudança de regime, dando-se a substituição do presidencialismo pelo
parlamentarismo. Depois, em consequência da realização de um progra-
mado plebiscito, retorna-se ao presidencialismo e Jango retoma seus po-
deres presidencialistas. Logo depois, porém, em, 1964, o projeto golpista,
integrando o empresariado e os militares, com direto e forte apoio do
capital, impôs aos brasileiros a ditadura empresarial militar que, com tor-
turas e mortes, durou até 1985. Faz-se uma pausa nestas reflexões para
lembrar observação de ilustre sociólogo da USP, Francisco de Oliveira. Diz
ele que no Brasil os tempos de ditadura ultrapassam o tempo de liberda-
des, citando a ditadura de Vargas e essa mais recente, a empresarial mili-
tar. Em outro estudo, já se pediu vênia ao ilustre Francisco de Oliveira para
dele discordar em parte. Na verdade, o povo brasileiro nunca teve fala, a
não ser nos momentos históricos em que se opôs revolucionariamente à
classe dominante. Foi assim em Canudos, na Cabanagem, no Contestado.
Mas o espectro da ditadura está sempre presente nos ares políticos
desta eterna vilã que é a classe dominante no Brasil. Fez ela a sua revo-
lução burguesa, mas entregou-se de corpo e alma aos interesses interna-
cionais, pois jamais se firmou como classe independente. Não conseguiu
por isso conviver com o trabalhador quando ele se organizou em seus
sindicatos. É bom lembrar que o sindicalismo brasileiro, nascido com o
Estado Novo de Vargas, em 1937, de caráter fascista, inspirou-se na
Car-
ta Del Lavoro,
de Mussolini, e gestou nas suas entranhas os que ficaram
conhecidos como pelegos. Pelego, a manta que no sul se usa sobre a cela