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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 285 - 304, jul. - set. 2016

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de sua condição excepcional como juíza, a entrevistada parece nunca ter

feito da entrada feminina na magistratura uma luta pessoal e apenas se

queixou de ter ficado muito tempo sem colegas mulheres:

“Eu sabia que eu era a única mulher. Eu queria que mais mu-

lheres passassem, mas isso não me dizia nada. Eu sentia falta

de colegas mulheres, eu sou muito comunicativa, eu gosto de

amigas, me sentia isolada.”

Afirma que sua entrada não teve nenhum grande impacto lá dentro

e que nunca sentiu nenhum tipo de preconceito por parte dos colegas

homens. Mas é claro que sua entrada causou algum alvoroço na institui-

ção. Tanto assim que o fato não foi normalizado e que as mulheres con-

tinuaram a ser vetadas após sua aprovação, muito embora tenham dado

provas quantitativas de que tivessem interesse em ocupar esse lugar,

como vimos na sua outra fala (ou seja, elas se inscreviam nos concursos).

Sua entrada também causou algum impacto na sociedade de modo geral,

pois, tal qual as pioneiras dos outros estados, foi procurada pela imprensa

e pela televisão para comentar o feito.

De maneira contraditória, há emMagui certa “cegueira” em relação

a qualquer tipo de vivência de desigualdade de gênero dentro da prática

e da convivência profissional, a qual me parece um tanto racionalizada, já

que seu discurso, em certos momentos, demonstra consciência sobre o

patriarcalismo da instituição. Talvez, a técnica para conseguir seu objetivo

pessoal foi evitar qualquer alteração da ordem institucional “apagando”

seu gênero (BONELLI; 2010); algo como “me deixem ser juíza aqui em paz,

que ninguém nem vai notar que sou a única mulher”. De toda forma, mes-

mo sem questioná-la diretamente, sua presença atípica sublinhava a desi-

gualdade de gênero que acompanha(va) a magistratura.

Zélia Antunes Alves

Muito elegante, tem uma postura empertigada, é bastante séria e

segura. Vem de uma família abastada e o Direito sempre foi uma realidade

muito presente na sua vida. Seu pai é advogado decano do Vale do Para-

íba e, segundo informações de outras entrevistadas, teria também sido

dono ou diretor de uma das principais faculdades de Direito do interior do

estado de São Paulo, a Universidade de Taubaté (na qual Zélia se formou).