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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 285 - 304, jul. - set. 2016

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Nossas entrevistadas

5

foram: Magui Lins de Azevedo, primeira juí-

za e primeira desembargadora do estado de Pernambuco, empossada em

1964; Maria Berenice Dias, primeira juíza e primeira desembargadora do

Rio Grande do Sul, aprovada em 1973; Zélia Antunes, primeira juíza e pri-

meira desembargadora de carreira do estado de São Paulo; e Iracema Gar-

cia, aprovada no Judiciário paulista no mesmo concurso de Zélia em 1981

6

.

Resgatar a história da carreira dessas mulheres é relevante para o

autoentendimento do próprio Judiciário, na medida em que exibe a força

do patriarcado que lhe perpassa(va) e traz às claras o início de seu tími-

do processo de heterogeneização de gênero, cujas implicações têm sido

pouco discutidas. Também o é para os Estudos de Gênero, pois é mais um

exemplo empírico capaz de demonstrar como o patriarcado ergue barrei-

ras estruturais e ideológicas às mulheres (SAFFIOTI, 2004), especialmente

na disputa por espaços de poder. Além disso, em termos sociológicos, as

conquistas dessas mulheres ilustram como o agente, mesmo sob condi-

ções de opressão, pode, em alguns casos, sem uma atuação coletiva, per-

furar estruturas e enfraquecer hegemonias, o que permite pensar as vá-

rias formas de mudança social. Por tudo isso e por conta da minha filiação

feminista, creio que nós, pesquisador@s do Direito, da Sociologia, dos Es-

tudos de Gênero e/ou da Antropologia do Direito, devemos nos apropriar

desse objeto geral “mulheres e magistratura”, procurando sua história,

suas condições de possibilidade, seus impactos para a sociedade, para o

Judiciário e para o Direito.

Magui Lins de Azevedo

Foi a primeira entrevistada e a mais difícil de encontrar. Não há ne-

nhum relato sobre seu pioneirismo na página do TJPE e quase nada na

in-

ternet

. Só se encontra algo sobre Magui Azevedo na rede caso já se esteja

de posse de seu nome completo, pois referências como “primeira juíza de

Pernambuco” ou “primeira magistrada” nos

sites

de busca não conduzem

a nenhuma referência sobre ela. Depois de tentar em diversos lugares

e com diversas pessoas, consegui descobrir seu nome graças à dica de

um funcionário do tribunal que me sugeriu uma incursão ao Memorial da

5 Todas foram entrevistadas por mim em seus respectivos estados. As entrevistas duraram entre 1h30min e 4h e

consistiram em aplicação de um questionário semiaberto, seguido de entrevista semiestruturada.

6 Mediante suas autorizações, faço questão de expor seus nomes aqui exatamente no intuito de tornar a elas e as

suas experiências algo visível que expressa um pouco da dimensão humana de uma instituição que, como outra

qualquer, não existiria sem esse componente feito de carne, osso e emoção. A ordem das falas será de acordo com

a ordem cronológica em que as entrevistei.