

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 285 - 304, jul. - set. 2016
292
curso de agradecimento proferido na solenidade de sua aposentadoria,
a juíza diz:
“Nesta ocasião não poderia deixar de recordar o meu querido
tio, Desembargador Pedro Martiniano Lins, que também fez
parte deste Tribunal de Justiça, de onde foi presidente, pelo
apoio que ele sempre me deu.”
(trecho do seu discurso de
aposentadoria)
Se houve algum tipo de nepotismo, não há nenhum dado que possa
confirmá-lo. No concurso, em 1966, foram 35 homens aprovados e ela.
Dado o “exotismo” de sua aprovação, sondando, então, como a própria
Magui a justifica, percebo que a juíza não se atém muito ao tópico e tenta
atribuí-la ao acaso. Uma hipótese que também pode fazer algum sentido,
dado seu ponto tão fora da curva; até mesmo porque, como foi dito, após
o “ponto Magui”, a curva continuou absolutamente estável por mais duas
décadas; nenhuma outra aprovação feminina. Diz que essa sua aprovação
excepcional causou algo como um certo despeito entre as colegas da área,
e que tem consciência de que gerou fofocas “As pessoas pensavam ‘só ela
que entrou por quê?’”. Na percepção dela, então:
“Eu fui a única a requerer. Como eu passei, aumentou o nú-
mero de requerentes e eles negavam todas, todas, todas.
Imagino que para me aprovar eles possam ter pensado ‘dei-
xa, deixa que ela não vai passar mesmo’. No ano que fiz, fui
a única a me inscrever, aceitaram, passei. Acho que quando
viram que era só eu, aceitaram. No concurso seguinte, mais
mulheres se inscreveram e todas tinham a inscrição negada
sem explicação”.
Ao ser questionada sobre essa nítida barreira que havia ao ingresso
feminino antes e depois de sua aprovação, Magui afirma ter consciência
de que ela existia e de que “se não eram todos os homens que não que-
riam mulheres lá dentro, com certeza era a maioria.” Por outro lado, afir-
ma ter sido sempre bem-tratada por eles. Mesmo sabendo de tudo isso e