

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 285 - 304, jul. - set. 2016
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Justiça do TJPE e, através de um garimpo nos registros digitais, consegui
finalmente descobri-la. A dificuldade do processo para “descobri-la” de-
monstrou quão desconhecida ela é dentro de seu próprio estado e quão
invisibilizada é a sua história na instituição (muito embora Magui tenha
sido, na verdade, uma das primeiras juízas do país).
Magui não só foi a primeira juíza, como também a primeira desem-
bargadora de seu estado e só largou a vida profissional por conta da apo-
sentadoria compulsória (chamada jocosamente por ela de “expulsória”),
após 38 anos de magistratura, dos quais 22 deles foram como a única
mulher da instituição. Muito embora nem aparente ser e nem se perce-
ba como uma pessoa “desbravadora” ou “subversiva” da ordem social,
em termos de lugares de gênero tradicionais, Magui sempre contrariou a
norma, mesmo que nunca tenha se dado conta ou feito alarde sobre isso.
Valendo-se dos estudos e do trabalho, conseguiu um alto nível de autono-
mia muito jovem (o que era raro entre as mulheres de sua época) e nem
mesmo o lugar de “esposa” parece lhe ter chamado suficiente atenção,
posto que nunca tenha se casado. Solteira e sem filhos, tinha 78 anos
quando foi entrevistada.
Conta que, na juventude, sempre quis “trabalhar e ganhar dinhei-
ro” e que “era doida para ter autonomia”, e que seu pai, inclusive, lhe dava
apoio para fazê-lo. Entretanto, o horizonte mais próximo para a realização
desse objetivo era o magistério, profissão tradicional feminina. Só que,
para ela, isso estava totalmente fora de cogitação: “Naquele tempo, todo
mundo era professora. Eu nuuuunca quis ser professora. Deus me livre.”
Procurando seu lugar, em 1952, com apenas 18 anos, se inscreveu
num concurso do Ministério da Agricultura (MA) para escriturária. E foi
aprovada. E foi essa aprovação tão jovem que, segundo ela, serviu de in-
centivo para fazer os outros concursos que vieram ao longo da vida. Pude
perceber que, tal qual as outras entrevistadas, Magui é uma mulher que
sempre foi muito estudiosa e que parece ter usado isso como “arma” para
se aproximar dos lugares que queria ocupar, abrindo seu espaço através
da comprovação da competência técnica.
Sua formação na área do Direito foi quase acidental, muito embora,
depois dos seus muitos anos de magistratura, se afirme como uma juí-
za vocacionada e seja visivelmente apaixonada pela profissão. O que lhe
aconteceu para ela “cair” no Direito foi que, mesmo com o trabalho no
MA, lhe “sobrava muito tempo” e ela não gostava de ficar em casa “sem