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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 193 - 206, jul. - set. 2016

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mes. Essas modificações, em último grau, afetarão até mesmo a possibi-

lidade – ou não – de um elemento qualquer ser substituível por outro.

Se equacionarmos a essas categorias as mencionadas contribuições de

Hobbes e Grotius, os algoritmos revelarão uma complexidade muito re-

levante, que não poderá ser aprofundada neste ensaio, porquanto esse

aprofundamento requeresse texto de caráter muito mais amplo.

Voltemos à análise do copo d´água.

No campo da qualidade, como dissemos, o copo d´água depende

da visão do sujeito. Responde à questão O QUE é ou QUAL é, de onde pro-

vém o próprio vocábulo “qualidade”. O que é um copo d´água para quem

está há dois dias no deserto? O que é o mesmo copo d´água para quem

está há cinco horas em pleno mar aberto no meio de uma tempestade? Os

pontos de vista ou as perspectivas sobre este copo, idêntico materialmen-

te, serão absolutas, inegociáveis, infranqueáveis. Sua eficácia é, ou deve

buscar ser, absoluta, embora advinda do que consensualmente (quere-

mos dizer: no senso comum) possa parecer relativo, a saber, o sujeito.

Como conseguir extrair do que advém de necessidades pessoais/

subjetivas (individuais ou coletivas; físicas ou empresariais/estatais) fór-

mulas que contemplem, pela emanação mesma da natureza humana, a

todos os seres humanos ou pessoas (físicas ou jurídicas) irrestritamen-

te, de modo objetivo, sem possibilidade de negociações, ou submetendo

essas negociações a cordames muito seletos ou, em melhores palavras,

justos

, isto é, sem permitir que nada exceda ou falte? Esse é o propósito

primeiro e último da Justiça, que está atrelado ao que chamaremos sua

“epifunção” no momento adequado deste ensaio.

Ao retirar do que é específico e pessoal uma fórmula geral e univer-

sal, a Justiça revela-se

alma mater

das ciências humanas como um todo,

perseguindo o método indutivo de pensar.

Uma vez no alto da abstração teórica formulada, a Justiça se volta,

mais uma vez, para o plano específico ou pessoal, aplicando a teoria dali

haurida, cuja essência é geral e universal, a fim de que esta possa ser ajus-

tada incessantemente à realidade como esta se apresenta, sempre atu-

alizada no “razoável ou não razoável” (cf. WITTGENSTEIN, 1984) da vida.

Com isso, seu método é o dedutivo.

Na eterna dialética, não apenas dos fatos em si mesmos, como tam-

bém das metodologias segundo as quais esses fatos devem proporcionar

o Bem e o Justo – indutivo/dedutivo −, assenta com estabilidade o espí-