

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 193 - 206, jul. - set. 2016
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É como, metodologicamente, agiremos a partir daqui.
Reflita-se, antes de tudo, sobre as categorias aristotélicas de “Qua-
lidade” e “Quantidade” e como Justiça e Política retêm cada uma delas e
distribuem-se em função dessas essências.
Vamos aos conceitos preambulares, ficando claro ao leitor que nos-
sas bases são Platão e Aristóteles, mas também Hobbes, Grotius, Kant,
Hegel, Humboldt e outros.
A qualidade é subjetiva, natural, instintiva, física, fixa, formal, abso-
luta. Uma das características – não única – da categoria de qualidade é ser
afeita ao espírito do Romantismo e seus golpes sociais, tão presentes na
História humana (e por vezes chamados de “revoluções”), mormente os
ocorridos a partir do fim do século XVIII, como a Revolução Americana, a
Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a Independência do Brasil, a
Revolução Russa, a Revolução Cubana etc.
A quantidade é objetiva, contratual, moral, positiva, mutável, fun-
cional, relativa, afeita ao espírito do Neoclassicismo, cujo epígono ocorreu
do fim do século XVII até o meado do século XVIII.
Sobre essa distinção epistemológica entre Romantismo e Neoclassi-
cismo, que os coaduna a modos de pensar qualitativo ou quantitativo, re-
metemos o leitor interessado ao filósofo Chaïm Perelman (PERELMANN,
1987), bem como aos nossos artigos sobre argumentação jurídica e epis-
temologia aplicada (Cf. Chini e Caetano).
As categorias de qualidade e quantidade não são permutáveis uma
com a outra, embora dialoguem, sutileza que requer um modo bastante
atilado de pensar e discernir. Trata-se de postulado que tentaremos de-
monstrar a seguir, e de cujas premissas e conclusões emanará a própria
essência deste nosso ensaio.
A qualidade traz à luz a primazia do ponto de vista (ou da perspec-
tiva) do sujeito. A quantidade traz à luz a primazia do ponto de vista (ou
da perspectiva) do objeto. Também são postulados que, em convergência
com o anterior, perfarão, assim desejamos, a ideia central aqui apontada.
Podemos submeter essa primeira conclusão, baseada na articula-
ção dos postulados há pouco perfilados sobre qualidade e quantidade, a
uma experiência facilmente assimilável pela racionalidade.
Um simples copo d´água pode ser observado segundo critérios de
qualidade ou quantidade, e as modificações daí decorrentes serão enor-