

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 193 - 206, jul. - set. 2016
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rito da Justiça. Partir do específico, gerar o universal e retornar ao espe-
cífico, isso é intrínseco à Justiça porque é o movimento que propulsiona
sua fonte primeira e última – o Bem. Perceba-se que esta não foi,
ainda
,
uma “definição” de Justiça, mas uma
invitation à la danse
ao propugnar
por seu propósito (e a maneira cientificamente explicável de alcançá-lo),
o qual afasta de seu paradigma, clareando-o, todos os elementos que lhe
são extrínsecos.
O mesmo copo d´água, voltando mais uma vez a ele, e nas mesmas
duas situações descritas acima, pode ser, ora, submetido também ao crivo
da categoria de quantidade para que se verifique, deste experimento em-
pírico e racionalista, como a eficiência quantitativa depende de um con-
texto de harmonia previamente estabelecido para ser lógica e coerente.
Responda-se a isto: QUANTO vale (ou custa...) um copo d´água? Tente-se
substituir o copo d´água, em quaisquer das duas situações, por uma me-
dalha de ouro, por um milhão de dólares, pelo que quer que seja, enfim.
A sua presença ou ausência radicais e inegociáveis – respectiva-
mente nos casos do “sujeito do deserto” e do “sujeito do mar aberto”
– são insubstituíveis, irrevogáveis e irredarguíveis. Trata-se de lógica, aná-
lise quantitativa de dados, proveniente, contudo, da necessidade natural
(qualitativa) de informações oriundas de sujeitos em situações distintas.
Trata-se da moral nascida do natural, para voltarmos a Hobbes e Grotius.
Trata-se do absoluto coroado pelas vicissitudes distintas da pluralidade.
Como anunciáramos, o embrenhar-se é sutil e não permite conclusões
apriorísticas, dada a sua complexa rede de (inter)diálogos.
Estar com sede, no caso do deserto, e ter necessidade de ar e cal-
maria, no caso da tempestade em pleno mar, não são negociáveis, e não
podem ter seus remédios substituídos por objetos contratualmente ou
moralmente determinados, senão exclusivamente por algo cuja natureza
mesma se apresenta de forma inequívoca e translúcida de maneira impe-
rativa e categórica (cf. KANT, 2009), isto é, igual a qualquer ser humano
em situações idênticas, em qualquer espaço, em qualquer tempo.
A psicologia funciona exatamente porque, em que pese às diferen-
ças e especificidades humanas, há algo em comum a todas as mentes hu-
manas.
Partimos dessas situações-limite (o deserto e o mar aberto), para
averiguarmos que, entre elas, naturalmente, há todo o caleidoscópio de
necessidades (físicas) e quantificações (morais) que tecem e entretecem,