Background Image
Previous Page  173 / 308 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 173 / 308 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 75, p. 170 - 192, jul. - set. 2016

173

Há mais de uma concepção conceitual a respeito da justiça restau-

rativa. O movimento restaurativo ainda é recente no mundo, e, principal-

mente, no Brasil. Por se tratar de um novo paradigma, o conceito de Jus-

tiça Restaurativa ainda é algo inconcluso, que só pode ser captado em seu

movimento ainda emergente. Para compreendê-lo é preciso usar outras

lentes, conforme Howard Zehr, “trocando as lentes e definindo

um novo

foco sobre o crime e a justiça”.

De acordo com Zehr, é necessário que se mude o foco epistemoló-

gico, mudando as lentes, assim vislumbrando as noções de crime e justiça,

crime como sendo uma violação entre as pessoas e seus relacionamentos.

Nesse modelo, a justiça envolve a vítima, o ofensor e a comunidade na

busca de soluções que promovam o reparo, reconciliação e reaseguração

2

.

Em sua obra de grande renome no mundo, Howard Zehr  leciona

sobre o tema da seguinte forma:

“O que a Justiça Restaurativa oferece não só uma nova prá-

tica de justiça, mais um olhar diferente de crime e um novo

objetivo para justiça: o crime é visto como uma fonte de pre-

juízo que deve ser reparado. Além disso, o dano essencial

do crime é a perda de confiança, tanto ao nível interpessoal

e social. O que as vítimas e as comunidades precisam é ter

sua confiança restaurada. A obrigação fundamental do de-

linquente é mostrar que eles são confiáveis . O objetivo da

justiça deve ser para incentivar este processo. O objetivo pri-

mordial da justiça, então, deveria ser o restabelecimento da

confiança. A tentativa de conseguir isso em ambos os níveis,

pessoal e social, pode fornecer um guarda-chuva unificador

para a nossa resposta ao crime. Ao invés de substituir outros,

os objectivos mais tradicionais, que se tornaria a principal

consideração na sentença, oferecendo razões e limites para a

aplicação de metas, como a incapacitação e punição.”

3

Observa-se que a justiça restaurativa pode ser compreendida como

uma forma de justiça voltada para a reparação do dano causado pelo de-

lito. De acordo com esse raciocínio, busca-se a reparação da vítima, além

da reintegração do ofensor a sua comunidade, a qual participa do proces-

2 ZEHR, Howard.

Trocando as lentes - um novo foco sobre o crime e a justiça

. São Paulo. Palas Athenas, p. 62.

3 Idem, p. 90.