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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 74, p. 140 - 145. 2016

Mas a grande inovação do CPC de 2015 consiste em criar uma ino-

vadora modalidade de procedimento, que podemos classificar de espe-

cialíssima: a que deriva de negócios jurídicos processuais, por convenção

das partes, de modo bilateral e no plano contratual; ou, ainda, de acordo

das partes, celebrado em juízo e de maneira mais complexa

2

, para estabe-

lecer o procedimento, no âmbito endoprocessual.

Dentre as várias regras que disciplinam o negócio processual no

novo código, merece destaque aquela contemplada em seu art. 190. De

acordo com esse dispositivo, se o processo versar sobre direitos que ad-

mitam autocomposição, as partes poderão, desde que capazes em sua

plenitude, estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especifi-

cidades da demanda, isto é, àquilo que de especial e, portanto, merecedor

de destaque, exista na questão de direito material a ser veiculada no pro-

cesso. Nesse novo contexto normativo, as partes poderão convencionar,

dentre outros temas, a respeito de ônus da prova, inversão cronológica

de atos processuais, poderes, faculdades e deveres. E, como já afirmado,

poderão pactuar sobre essas matérias antes mesmo do processo, o que

significa inserir em contrato, público ou privado, negócio jurídico de na-

tureza processual, que vai muito além da mera eleição de foro, admitida

pelo código ainda em vigor.

3

Se, no curso ou depois de extinta a relação

jurídica, houver necessidade de ir a juízo, os contratantes, agora partes,

irão submeter-se a procedimento, que deverá ser processado na forma e

nos moldes ali pactuados.

Estamos diante, de fato, de uma expressiva inovação, que flexibi-

liza a natureza até então cogente das regras que disciplinam os proce-

dimentos em juízo. Essa relevante mudança de perspectiva, certamente,

foi inspirada no processo arbitral, que tem por principal característica a

liberdade das partes de pactuarem, inclusive através de prévia cláusula de

arbitragem, a respeito do procedimento ao qual estarão sujeitas em litígio

a ser submetido à arbitragem.

2 A que optamos por chamar de negócio jurídico processual complexo, embora há quem prefira chamá-lo de ne-

gócio jurídico plurilateral (cf. FREDIE DIDIER JR.

Curso de direito processual civil

, v. 1, 17. ed., Salvador: JusPodivm,

2015, p. 378; PAULA SARNO BRAGA. "Primeiras reflexões sobre uma teoria do fato jurídico processual: plano da

existência".

Revista de Processo

. São Paulo: RT, n. 148, jun. 2007).

3 Para HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “a possibilidade de as partes convencionarem sobre ônus, deveres e faculda-

des deve limitar-se aos seus poderes processuais, sobre os quais têm disponibilidade, jamais podendo atingir aqueles

conferidos ao juiz. Assim, não é dado às partes, por exemplo, vetar a iniciativa de prova do juiz, ou o controle dos pres-

supostos processuais e das condições da ação, e nem qualquer outra atribuição que envolva matéria de ordem pública

inerente à função judicante” (

Curso de direito processual civil

, v. 1, 56. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 470).