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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 73, p. 38 - 54, abr. - jun. 2016

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tres servem como indício de que o consumo de substâncias rotuladas na

atualidade como drogas se faz presente desde o Paleolítico superior (entre

10 a 40 mil anos atrás) (CAVALCANTI, 2008, p. 83-95) (BERGERON, 2012).

Como destacam Arbex Junior; Tognoli (1996), são diversos os regis-

tros que sugerem de que as sociedades greco-romanas e egípcias consu-

miam frequentemente vinho, ópio, ervas medicinais, entre outras plan-

tas, com a finalidade de alterar os estados normais da consciência. Alguns

registros encontrados destacam o consumo de plantas alucinógenas na

América do Sul em um período que data de 11 mil anos (ARBEX JUNIOR;

TOGNOLI, 1996) (ESCOHOTADO, 2002).

O consumo de coca está inserido na identidade cultural dos povos

que habitam os planaltos andinos há pelo menos 5 mil anos. O mesmo

começou a ser proibido através das intervenções dos colonizadores es-

panhóis, logo que subjugaram militarmente esses povos. A folha sagrada

fora considerada o

talismã do diabo

, uma afronta aos dogmas católicos

defendidos pelos colonizadores. No entanto, a liberação do consumo de

coca fora permitido posteriormente, mesmo não sendo uma política ofi-

cial, uma vez que por algum tempo os colonizadores espanhóis percebe-

ram que o consumo de coca era um estimulante que resultava na inten-

sificação do trabalho, tanto dos camponeses como também dos mineiros

da Bolívia e Peru, passando assim a ser tolerado. (ESCOHOTADO, 2002). A

coca, além de ser estimulante, também aliviava a dor e o cansaço físico.

Dória (1986) destaca que o óleo de cânhamo, gênero de

cannabis

, era

utilizado como combustível na produção de luz elétrica que chegava às

principais ruas das cidades de grande porte dos Estados Unidos. Com a

expansão farmacológica, iniciada na segunda metade do século XIX na Eu-

ropa, alguns opiáceos e a cocaína foram substâncias recomendadas com

certa frequência para uma diversidade de patologias, assim como algu-

mas misturas como o láudano

1

e morfina, esta última utilizada recorren-

temente como anestésico.

Até o término do século XX o profissional responsável pelo recei-

tuário era o médico, no entanto, era função do farmacêutico o preparo

dos medicamentos a partir das doses preestabelecidas na receita enca-

minhada pelo médico. Na receita constavam as substâncias, muitas delas

importadas de laboratórios situados na Europa e Estados Unidos, neces-

sárias para a elaboração do medicamento. Era possível encontrar grande

1 Substância proveniente do século XVII composta de álcool e ópio