Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  175 / 256 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 175 / 256 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 73, p. 162 - 181, abr. - jun 2016

175

A democracia implica, além da atribuição do poder decisório às

maiorias, a instauração de um contexto de diálogo, de respeito pela po-

sição do outro e de garantia dos direitos fundamentais

57

, sem exclusão.

Por isto que a administração pública dialógica contrasta com

a administração pública monológica, refratária à instituição e ao

desenvolvimento de procedimentos comunicacionais com a sociedade.

Épossível identificar nosmodelosdialógicosoprincípioda separação

de poderes com o sistema de freios e contrapesos, que, “embora seja

relativamente recente na Europa Continental, não é propriamente novo

nos Estados Unidos”. Atualmente, vem se verificando a globalização do

modelo concebido pelos

founding fathers

, em que nenhum dos “pode-

res” assume a função de exclusivo produtor de normas jurídicas e de polí-

ticas públicas -

police-maker

; antes os “poderes” constituem fóruns políti-

cos superpostos e diversamente representativos, cuja interação e disputa

pela escolha da norma que regulará determinada situação tende a produ-

zir um processo deliberativo mais qualificado do que a mítica associação

de um departamento estatal à vontade constituinte do povo

58

.

No universo doutrinário anglo-saxão, há grande número de estu-

dos salientando as vantagens dos modelos teóricos que valorizam diálo-

gos entre órgãos e instituições, como se pode depreender das pesquisas

de Laurence G. Sager

59

, Christine Bateup

60

, Mark Tushnet

61

, Mark C. Miller

e Jeb Barnes

62

. Tal tendência é acompanhada pela doutrina canadense

(Peter W. Hogg e Allison A. Bushell

63

).

Janet Hiebert

64

sugere uma compreensão da teoria dialógica segun-

do a qual deve ocorrer interação horizontal entre as instituições. Assim

57 SOUZA NETO, Cláudio Pereira.

Teoria Constitucional e Democracia Deliberativa

: um estudo sobre o papel do Direito

na garantia das condições para cooperação na deliberação democrática. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 302-303.

58 BRANDÃO, Rodrigo.

Supremacia Judicial versus Diálogos Constitucionais

– a quem cabe a última palavra sobre o

sentido da Constituição? Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p. 221.

59 SAGER, Laurence G.

Justice in Plainclothes: a theory of american constitucional practice

. New Haven: Yale Uni-

versity Press, 2004.

60 BATEUP, Christine.

"The Dialogical Promise": assessing normative potential of theories of constitutional dialogue.

Brooklyn Law Review

, v. 71, 2006.

61 TUSHNET, Mark.

"Weak Courts, strong rights: judicial review and social welfare right in comparative constitucio-

nal law."

Princeton:

University Press

, 2008.

62 MILLER, Mark C.; BARNES, Jeb (Eds.).

"Making police, making law: an interbranch perspective"

. Washington D.C:

Georgetown University Press

, 2004.

63 HOGG, Peter W.; BUSHELL, Allison A.

"The charter dialogue between Courts and legislatures (Or Perhaps The

Charter Of Rights Isn’t Such A Bad Thing After All)."

Osgood Hall law journal,

v. 35, n. 1, 1997, p. 105.

64 HIEBERT, Janet.

"New Constitutional Ideas. But can new parliamentary models resist judicial dominance when

interpreting rights?"

Texas:

Law Review

, v. 82:7, 2004, p. 1963-1987.