Background Image
Previous Page  40 / 224 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 40 / 224 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 27 - 40, jan. - mar. 2016

40

Para tanto, é necessário que as equipes responsáveis pelo atendi-

mento sejam efetivamente preparadas conforme já mencionado acima,

com formação específica na temática da violência de gênero, com a fina-

lidade de evitar que as práticas institucionais, em regra bastante perme-

adas pelos valores patriarcais e autoritários vigentes em nossa cultura,

constituam apenas mais uma instância de violação de direitos humanos

da mulher. Também os serviços de saúde, outra porta de entrada das mu-

lheres na Rede de atendimento em casos de violência doméstica e fami-

liar, devem oferecer um atendimento humanizado e sensível à peculiar

situação. Um bom atendimento pressupõe pouco tempo de espera, ga-

rantia de sigilo e discrição, já que, em muitos casos, a mulher tende a

querer esconder as marcas da agressão sofrida.

O atendimento humanizado e a escuta sensível são essenciais para

que a mulher consiga reconstituir a situação pela qual passa, percebendo-

-se como vítima de uma agressão, porém sem que isso reforce seu papel

de passividade e a imobilize. Ao ser capaz de interpretar a violência so-

frida como violação a direitos que titulariza, ao colocar-se na posição de

sujeito e não mais de objeto da relação conflituosa, portanto, é possível

que a mulher se sinta apta a recorrer aos meios disponíveis para romper

com esse ciclo.

Nesse contexto, os valores feministas devem integrar as instituições

policiais e jurisdicionais, especialmente as que tratam da violência domés-

tica, promovendo um tratamento mais especializado e acolhedor às mu-

lheres em situação de violência. Um tratamento que vise não só à mera

resolução de conflitos, mas que tenha por base um olhar político pautado

na igualdade e educação não sexista, na desmistificação da violência e na

deslegitimação dos meios que a legitimam. Um tratamento que promova

a mulher como indivíduo-cidadã e que tenha por objetivo não só o fim da

violência doméstica, mas sim o fim da cultura patriarcal que a autoriza.