

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 27 - 40, jan. - mar. 2016
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A segunda audiência, enquanto o réu da primeira não chega-
va, era referente a uma vítima, que compareceu, e o réu não.
Ela tinha 74 anos e alegava perturbação de tranquilidade por
parte do ex-cônjuge, quando o juiz [Juizado H] a intimidou: ‘A
senhora por acaso sabe o que é um crime? Acha mesmo que
ele é um criminoso? Minha mulher perturba minha tranqui-
lidade todo dia e nem por isso a ponho no Judiciário: isso é
uma instituição cara, não é feita para dar lição de moral em
ex-cônjuges
5
’
(Analista)
Uma mulher que deseja romper a violência em que se encontra
terá, portanto, dificuldades em lidar com a rota crítica do fluxo de Justiça
Criminal e com o sistema dos Juizados:
Atendimento pessoal péssimo. Zero. Eu me senti verdadeira-
mente humilhada aqui. Eu tô super revoltada. Eu acho que
esses Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher é puro
marketing. Marketing. Porque, na verdade, a mulher, ela é...
quer ser ouvida. Hoje em dia a gente tem aí juízes que estão
sendo assassinados, autoridades que estão sofrendo violên-
cia e porque só a mulher que é submissa? Que é alvo de de
de..? Não. Então, quer dizer, eu aqui fui muito, muito... eu tô
muito revoltada com o juizado, eu me arrependo muito; eu
preferia ter ido direto prum outro juizado: o juizado comum,
sabe? Porque aqui é uma farsa. As juízas daqui eu odeio. Eu
tenho um ódio! Eu odeio os promotores. Os promotores, nas
audiências, eles tavam preocupados se eu tive contato sexu-
al com o agressor e não com a lesão corporal! Cara, o que
que isso vai dizer? O que que isso vai acrescentar? O cara tá
gritando até hoje lá que eu sou uma piranha! Dizendo... com
todos os termos de mais baixo calão possível! O que que isso
(o contato sexual) é relevante pro fato? Tem um laudo. E tem
que definir, o Ministério Público tem que se preocupar com a
lesão. Com o fato. Nada mais.(...) Eu acho que as autorida-
des, principalmente os juízes e promotores, entendeu? E aí
a defensoria pública, ela se sente meio que de mãos atadas,
5 O caso versava sobre um agente que constantemente atingia, aos murros, o port
ã
o da casa da idosa.