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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 168 - 190, jan. - mar. 2016

Atentem para o emprego do adjetivo “perigosa”. Realmente é um

perigo para uma sociedade que produz a mulher-melancia, melão, mo-

rango; para uma sociedade que estampa nas bancas de jornais e

outdo-

ors

imagens femininas que mais se assemelham, e perdoem-me a com-

paração, uma propaganda de venda da carne Friboi, que se lhe conceda

visibilidade.

Não entendem os autores que a mulher assassinada pelo marido

em razão das relações de gênero constituiu uma situação diferente do

assassinato pelo não pagamento de uma dívida de 100 reais por compra

de droga. No segundo caso, o patriarcado não joga nenhum papel e no

primeiro é seu elemento essencial. É o motivo por que se perpetua o cri-

me. E esse motivo deve ter visibilidade.

3.1.4. Violação do princípio da ampla defesa

De forma similar, vários autores sustentam que o princípio da am-

pla defesa foi violado com a admissão da qualificadora, cito apenas Arou-

ck como exemplo de uma argumentação que se repete entre outros auto-

res. Minha análise se concentra em dois argumentos:

a) Violação do princípio da ampla defesa e inversão do ônus da

prova

Afirma Arouck:

“(...)Ora, acredita-se que tal alteração trará uma

desnecessária diferenciação de gênero, capaz de prejudicar, principalmen-

te, a ampla defesa dos acusados. (...)Este projeto de lei, eminentemente

de caráter simbólico, caso sancionado, não seria mais uma lei que entraria

no rol de leis desnecessárias existentes na legislação pátria? A inclusão do

feminicídio dará margem a denúncias arbitrárias e prejudicará, e muito, a

defesa do eventual acusado. Isso porque a presunção sempre será da exis-

tência de feminicídio, o que inverterá, na prática (ainda que a teoria diga

outra coisa), o ônus probatório, pois é o homem quem terá que provar a

inexistência de tais motivações. E como provar isso? A meu ver, é quase

uma prova diabólica, de difícil comprovação de inexistência por parte do

acusado. Acredita-se que sob o a falsa impressão de dar maior proteção a