

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 191 - 202, jan. - mar. 2016
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de crescimento anual de homicídios foi de 1,99%. A partir desta média
de crescimento anual (1,99%) é possível projetar estatisticamente o nú-
mero de homicídios que ocorrerão no ano de 2015. Utiliza-se a média
da última década (2004 – 2013) para o cálculo, em vez de toda a série
histórica (1980 – 2013), por se tratar do período que mais se aproxima da
atual realidade socioeconômica. Assim, com a média de crescimento de
1,99% ao ano, foi obtida a seguinte estimativa para o ano de 2015: 4.954
homicídios. Ou seja, a matança de 413 mulheres por mês, 14 mortes por
dia e quase uma morte por hora. Boa parcela desses femicídios (morte de
mulheres) configura feminicídio (morte em razão da violência de gênero).
O quadro de massacre coletivo não é peculiar à realidade brasileira.
Em toda América Latina (continente mais violento do planeta), a violência
contra as mulheres chama a atenção.
Mary Stokes, comentando a campanha solidária (lançada em
3/6/15) “Nem uma a menos” (feita pelas mulheres argentinas, chilenas e
uruguaias), fez o seguinte balanço da região
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:
(a) depois de 20 anos da declaração da ONU contra a eliminação
das mulheres, apesar de 20 países latino-americanos já terem suas leis es-
pecíficas, a autonomia da mulher ainda é uma ameaça concreta; (b) uma
de cada 5 mulheres jamaicanas já sofreram violência de um companheiro;
(c) na Guatemala, 2 mulheres são assassinadas a cada dia [no Brasil, como
vimos, algo perto de 14]; (d) no Uruguai, em 2015, já foram assassinadas
25 mulheres; (e) o custo da violência íntima (de companheiro) pode che-
gar até a 3,7% do PIB (latino-americano), que é maior que o gasto com
educação em vários países.
A autora citada prossegue: (a) a violência contra as mulheres reduz
o poder de decisão delas e promove a desigualdade econômica, social,
política e cultural; (b) acredita-se que a vida da mulher vale menos que a
do homem; (c) as leis de equilíbrio são necessárias, mas insuficientes (a
questão é cultural); (d) para ser considerado “macho” o homem precisa
ser dominante, forte e nunca se render; (e) a mulher precisa se preocu-
par com a aparência, submissão e estar a serviço do “seu homem”; (f) o
homem não perde nenhuma oportunidade para mostrar sua “força”
contra o “objeto” que lhe pertence; (g) a cultura machista está impreg-
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http://internacional.elpais.com/internacional/2015/11/25/america/1448478831_964796.html.