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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 191 - 202, jan. - mar. 2016

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Feminicídio: O Que Não Tem

Nome Nem Identidade Não

Existe

Luiz Flávio Gomes

Jurista e presidente do Instituto Avante Brasil.

SUMÁRIO

: 1. O estado do problema - 2. Quemmata por ciúme (ma-

chista) comete homicídio qualificado? - 3. Femicídios, feminicídios e Lei

Maria da Penha. A lei não basta. - 4. O machismo como arma de destrui-

ção em massa das mulheres - 5. “O corpo é meu e faço dele o que quero”.

1. O ESTADO DO PROBLEMA

Para se alcançar a média de 4,7 mortes de mulheres para cada 100

mil pessoas (Datasus e Mapa da Violência, 2013), o país precisa ser ver-

gonhosamente desigual (Gini 0,52), bastante ignorante (7,2 anos é nossa

média de escolaridade), flagrantemente racista, historicamente patriarcal

e incomensuravelmente machista.

Afinal, essa não é uma marca que se alcança da noite para o dia. As-

sim como não somos preponderantemente subdesenvolvidos por obra do

acaso (Darcy Ribeiro), o Brasil não chegou aos seus horripilantes indicado-

res de violência de um mês para o outro. Já somos o 5º país mais violento

nesse item (de um total de 83 países – Mapa Violência 2015: homicídio de

mulheres no Brasil).

Os números mostram que os “machos violentos” se converteram

numa arma de destruição em massa (das mulheres). Na última década

(2004-2013), o crescimento no número de mortes de mulheres (no Brasil)

foi de 24,3% no número absoluto: em 2004 constataram-se 3.830 mor-

tes, contra 4.762, em 2013. Portanto, para esta última década, a média