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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p.140 - 167, jan. - mar. 2016

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Para LAGARDE (2008), o feminicídio situa-se na desigualdade estru-

tural entre homens e mulheres, assim como na dominação dos homens

sobre as mulheres, que tem na violência de gênero um mecanismo de

reprodução da opressão das mulheres. Dessas condições estruturais sur-

gem outras condições culturais, como o ambiente ideológico e social de

machismo e misoginia e de normalização da violência contra as mulheres.

Somam-se também ausências legais e de políticas democráticas com con-

teúdo de gênero e de órgãos de justiça, o que produz impunidade e gera

mais injustiça, assim como condições de convivência insegura, põem em

risco a sua vida e favorece o conjunto de atos violentos contra as meninas

e as mulheres.

Mais de 1.000 mulheres e crianças são assassinadas a cada ano no

México e a situação não tem sido alterada. As mulheres assassinadas no

México tinham diferentes idades e profissões, pertenciam a distintas clas-

ses sociais e extratos socioeconômicos, ainda que a maioria fosse pobre,

algumas eram ricas, de classe média alta e da elite, analfabetas, com es-

tudos básicos, pós-graduadas e com excelência acadêmica, outras eram

estudantes; em relação aos seus agressores eram: desconhecidas, conhe-

cidas, cônjuges, familiares e amigas; havia entre elas solteiras, casadas,

ex-cônjuges, namoradas, ex-namoradas, filhas, enteadas, mães, irmãs,

noras, primas, vizinhas, subordinadas, professoras, vendedoras, turistas,

modelos, atrizes; a maioria das mulheres eram meninas e mulheres es-

forçadas, trabalhadoras informais e formais; também foram assassinadas

mulheres que tinham envolvimentos com delinquentes, ativistas, políticas

e governantes, quase todas eram mexicanas, mas algumas eram estran-

geiras: canadenses, brasileiras, holandesas, estadunidense, salvadorenha,

guatemalteca; a maioria foi assassinada na sua casa e outras não se sabe

onde, mas os seus corpos foram encontrados na rua, num terreno baldio,

num carro, numa construção, num rio, numa casa de sequestro; algumas

foram violentadas, outras queimadas, outras golpeadas até a morte, ou-

tras estranguladas, mutiladas, decapitadas, todas estiveram em cativeiro,

todas estavam desprotegidas, todas foram agredidas e violentadas até a

morte. A maioria dos crimes está impune.

A omissão do Estado, em diversas esferas, na construção prática da

igualdade entre mulheres e homens e na equidade de gênero, contribui

ativamente para o feminicídio. As mulheres não são sujeitas de direito e

não são consideradas nem tratadas como cidadãs; para tanto, as autorida-