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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 140 - 167, jan. - mar. 2016

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considerado o espaço social onde as hierarquias de poder mais se desen-

volvem e onde o domínio masculino mais se reproduz, não ocorre o mes-

mo quando o algoz é um desconhecido da vítima. Em regra, o poder da

dominação é utilizado mediante violência extrema no corpo de mulher (o

corpo e a sexualidade feminina são historicamente os espaços onde mais

se tenta demonstrar a autoridade masculina).

A anistia internacional, no informe “Mortes intoleráveis - Dez anos

de desaparecimentos e assassinatos na Cidade de Juarez e Chihuahua”, de

2003, põe em destaque a tolerância do Estado em relação a esses crimes,

devido à falta de uma atuação efetiva com a finalidade de combater esse

tipo de crime que, na verdade, é a demonstração mais evidente de discri-

minação contra a mulher. Por conseguinte, combater esse tipo de violên-

cia requer a adoção de políticas públicas baseadas em uma perspectiva de

gênero; quer dizer, uma perspectiva sensível a todas as formas em que se

manifesta a discriminação na perpetuação destes crimes.

Diana Washington (2005) publicou um importante livro descrevendo

os assassinatos demulheres na Cidade de Juarez e como o descaso e a indife-

rença governamental contribuírampara a impunidade dos crimes. Agredidas

sexualmente, mutiladas e assassinadas, seus cadáveres apareceram dias, se-

manas ou meses depois do crime em terrenos baldios ou lugares poucos

frequentados, e as vítimas, na sua maioria de classe social baixa, eram traba-

lhadoras, imigrantes e, com frequência, recém-chegadas à região.

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O México recebeu ao longo de mais de uma década mais de cin-

quenta recomendações internacionais de organismos de direitos huma-

nos e de relatores de diversas instâncias da ONU que contém a exigência

do governo de esclarecer todos os casos, facilitar o acesso à justiça por

parte dos familiares de vítimas e, cada vez mais, tem sido implementadas

políticas públicas com perspectiva de gênero para enfrentar tais crimes

e suas causas, assim como erradicar a violência contra as mulheres e a

impunidade (LAGARDE: 2008).

20 Diana Washington Valdez es periodista del periódico

El Paso Times de Texas

y, por más de seis años, se ha dedica-

do a investigar los casos de las muertas de Ciudad Juárez. Producto de su extensa cobertura sobre estos asesinatos

escribió, Cosecha de mujeres, donde la autora explica por qué las autoridades mexicanas no han podido arrestar a

culpables reales y por qué las explicaciones sobre asesinatos seriales, tráfico de órganos, videos snuff, ritos satánicos

o bandas callejeras no se sostienen. Washington Valdez plantea la hipótesis de que algunos de los asesinatos son

perpetrados por jóvenes pertenecientes a prominentes familias de Juárez que tienen nexos con cartel de la droga de

ese lugar y compran protección de la policía. Estos victimarios conocidos como los juniors se han dedicado a matar

mujeres como si fuera un deporte. La autora tiene informes fidedignos de una cierta clase de fiestas orgiásticas de

sexo y droga donde muchas jovencitas han sido violadas, asesinadas y posteriormente abandonadas en terrenos

baldíos. También sabe que parte de la indiferencia de las autoridades sobre el tema se debe a que hay investigadores

federales y oficiales que han facilitado y encubierto estas orgías.