

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 140 - 167, jan. - mar. 2016
152
Apesar de uma lei contra o femicídio ter sido aprovada em 2008, a
taxa de impunidade é bastante alta. Em um informe apresentado em abril,
a comissionada presidencial contra o femicídio, Alba Trejo, alertou que
98% dos casos não são solucionados na justiça.
14
Na Guatemala, como em outros países de América Latina, a vio-
lência contra as mulheres possui especial importância e deveria ser a
principal preocupação das iniciativas de prevenção e redução do crime e
da violência. De especial relevância nesse sentido é a violência homicida
contra as mulheres. As mulheres eram violentadas e torturadas durante o
período de confronto armado por agentes das forças de segurança do Es-
tado - sendo uma das principais formas de violência contra as mulheres e
se desenvolveu nas mais diversas e cruéis expressões, tais como violência
sexual e tortura em praça pública e de forma coletiva, na presença de toda
a comunidade ou de seus familiares.
15
Segundo o informe
Guatemala: Memoria del Silencio
, da CEH, “una
mujer detenida fue torturada y violada a lo largo de tres meses de forma
reiterada, hasta que le ofrecieron trabajar para el Ejército, 'acepté por mi
vida'. La mandaron a recibir cursillos y luego comenzó a trabajar en con-
cienciación. Iba a las comunidades y hablaba a través de un alto parlante
leyendo un discurso que le daban escrito en el Ejército. Muchas personas
llegaron al destacamento y se entregaron”.
As mulheres foram vítimas de sequestro e retiradas à força de suas
residências, e muitas sofreram torturas, tratamento cruel e desumano. A
tortura foi um recurso, não apenas para a obtenção de informação, mas
um recurso utilizado para a intimidação da população. A violência sexual
contra a mulher foi incluída no treinamento militar que se utilizou siste-
maticamente como parte da estratégia de dominação do inimigo. O exér-
“Días después me llevaron forzosamente al destacamento militar de El Chol”, continúa la narración de Teresa Sic,
“donde fui violada por muchos soldados durante 15 días seguidos, donde solo me dejaban descansar brevemente
para dormir. (...) Nos dieron sangre de toro, para que la bebiéramos, y carne cruda para comer”.
En el departamento del Quiché, al norte de la capital de Guatemala, los verdes campos de siembra y sus coloridos
mercados esconden uno de los macabros secretos de la historia del país. Esta es la zona donde la violencia durante
el conflicto fue extrema sobre todo en los años ochenta. Las mujeres sobrevivientes del genocidio han decidido
romper su silencio y plantar cara al Gobierno acusando a los culpables. “Tenemos que esclarecer los hechos y que
el Estado reconozca de verdad, ese es mi mayor deseo”, dice Feliciana, “estamos sin voz, la violación durante el
conflicto armado parece que no existió”. Disponible en:
http://izidoroazevedo.blogspot.com/2011/10/feminicidio-na-guatemala.html. Acesso em 22/02/2012.
14 51% de la población viven en condiciones de pobreza con un 15.2% en pobreza extrema de acuerdo con la última
Encuesta Nacional de Condiciones de Vida (ENCOVI) 2006, Instituto Nacional de Estadísticas.
15 Disponible em:
http://www.amnesty.org/es/library/asset/AMR34/017/2005/es/e6bd24fd-d4fe-11dd-8a23--d58a49c0d652/amr340172005es.pdf. Acesso em 27/02/2012.