

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 63 - 75, jan - fev. 2015
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a efervescente militarização em seu tecido social, a profusão de câmeras
vigilantes, muros, prisões, megaoperações policiais militares e emprego
de aparato bélico. Desse modo, despontam novos horizontes institucio-
nais, com táticas de convivência e de não convivência, mediante estraté-
gias de arranjos biopolíticos, os quais nos permitem decifrar os conflitos
sociais escamoteados pela repressão.
Assistimos à reinvenção da dinâmica das relações sociais nas “me-
trópoles globais” do mercado transnacional, particularmente no Rio de
Janeiro, com a ascensão do Estado Penal em detrimento do Estado Social,
pela exacerbação da criminalização da pobreza, pelas políticas de segu-
rança pública de confronto, que buscam imprimir a varredura dos margi-
nalizados, seja pela elevação das prisões, seja pela ampliação dos autos
de resistência, seja pela aumento dos casos de desaparecimentos. Tudo
isso corroborou o redimensionamento do Estado Policial.
O Estado Policial ritmando a Morte
Foi a partir de meados da década de 90 que ocorreu um incremento
nos investimentos materiais e humanos nas forças repressivas estatais,
através de veículos blindados, armas de alto potencial letal, com incur-
sões em favelas, que desencadearam considerável elevação da letalidade,
relacionada à prática policial, nas operações de confronto (MISSE, 2013:
15). Desde medidas como a premiação por bravura, conhecida como gra-
tificação faroeste, no Governo Marcelo Alencar, implantada em novembro
de 1995, quando o General Nilton Cerqueira era o Secretário de Seguran-
ça Pública. Tal premiação elevava em até 150% o salário de policiais, o que
ocasionou um crescimento exponencial dos autos de resistência. Assim,
da média de três pessoas mortas por mês em 1995, passou-se para mais
de vinte pessoas mortas por mês em 1996 (CANO, 1997b). Mais adian-
te, em 2003, ocorreria novo crescimento alarmante. Porém, nenhum tão
acentuado quanto o exponencial, em 2007, no Governo Sérgio Cabral.
O Governo Cabral adotou o modelo de enfrentamento na política
de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, que estimula o uso ex-
cessivo da força, o qual conduz à truculência policial. Há um critério que
permite aferir se há uso excessivo da força, que é o da verificação do nú-
mero de opositores mortos em relação ao número de policiais mortos, no
intuito de estabelecer uma proporção razoavelmente equivalente. Nessa
esteira, segundo estudos do IPEA, a média de dez mortos opositores para