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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 63 - 75, jan - fev. 2015

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Assim, a Polícia Civil, através da portaria 553/2011, determinou aos

delegados que registrassem no auto de resistência a obrigação de acionar

imediatamente equipe para isolar o local, solicitar perícia e apreender as

armas dos policiais envolvidos, entre outras atribuições. Logo, constatou-

-se a adesão ao Programa Nacional de Direitos Humanos, definido na Re-

solução nº 8, de 21 de Dezembro de 2012. De acordo com a supracitada

resolução, expressões como: “auto de resistência” e “resistência seguida

de morte” deveriam ser substituídas por: “lesão corporal decorrente de

intervenção policial” e “morte decorrente intervenção policial”.

Consoante Paulo Jorge Ribeiro, “é positiva a mudança no sentido de

exigir que toda morte classificada como auto de resistência seja investi-

gada. No entanto, o estarrecedor é que seja necessário criar um procedi-

mento para dizer que se deve cumprir o que está na Constituição, para dizer

que uma morte deve ser investigada” (RIBEIRO, 2013). O cerne da questão

continua na vontade política de investigar, quando há orientação da cúpula

do Governo para o enfrentamento. Afinal, não resta dúvida de que é preciso

um maior controle da atividade policial. Mas quem se responsabiliza pelas

mortes e pela sua fiscalização? Quando raramente incide, recai sob os poli-

ciais das mais baixas patentes, reforçando a ideia de estigmatização, agora

ligada ao agente. E, além do mais, persiste em vigor o instituto dos autos de

resistência, que já dão margem à arbitrariedades estatais.

O Sétimo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em de

05 de novembro de 2013, apontou que, em 2012, quase duas mil pessoas

foram mortas pela Polícia no Brasil. O Brasil aparece em primeiro lugar

em 2012 no ranking de mortos pela Polícia, com mil oitocentos e noventa

pessoas mortas em confrontos com policiais em serviço. Em seguida, vem

o México, com mil seiscentos e cinquenta e dois assassinatos. Nas Améri-

cas, depois vem a Venezuela, com setecentos e quatro mortos. Os Estados

Unidos, com quatrocentos e dez mortos e a República Dominicana, com

duzentos e sessenta e oito. O que confirma que a Polícia brasileira é uma

das mais violentas do mundo. Consoante a pesquisa, pelo menos cinco

pessoas são vítimas da intervenção policial no Brasil a cada dia. Na mesma

linha, o risco de um policial ser assassinado no país é três vezes maior do

que em qualquer outro. A popularidade da Polícia nunca esteve tão baixa.

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas aduz que 70% da população brasilei-