

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 54 - 62, jan - fev. 2015
61
Nesta relação de família, percebem-se momentos interessantes.
Há o juiz que está na infância (que pode perdurar para sempre).
Aquele que tem o pai por ídolo, que tem apenas um sonho: agradar o pai.
Mais: seu desejo quando “crescer” é ser igual a ele.
O número daqueles que permanecem na infância é importante. E
qual a forma mais comum de agradar o pai? Aderir a sua sapiência, reco-
nhecer a inteligência dele. Seu saber é o que interessa. E como o saber do
pai é expresso em acórdãos, seu continente é um: transcrever, sempre e
sempre, a vontade-jurisprudência do seu superior.
Então, a melhor sentença, na visão daquele que assume a condição
de pai (ou seja, quer que se lhe agrade), é aquela que mais copia acórdãos
– os seus acórdãos preferentemente!
Evidentemente que tal relação não é sadia, mas ela perdura neu-
roticamente. E quando eu, juiz, chegar ao tribunal, espero que outros “fi-
lhos” sigam, agora, o caminho que trilhei: copiem-me!
Mas nesta relação, outros parecem permanecer na adolescência:
querem destruir o pai. Seu inimigo externo, sempre e sempre, é o tribu-
nal. Tudo o que acontece na vida tem um culpado: o tribunal. Mesmo as
coisas boas que dele emergem são repudiadas. O tribunal está sempre
a perseguir-lhe e proteger o outro, o irmão. Seus acórdãos, mesmo que
preciosos, são rejeitados. Este filho mantém a lógica da família doentia,
é-lhe reservado o papel de ovelha-negra do grupo familiar. O número
não é significativo.
Outros, porém, parecem assumir a maturidade: o tribunal é ape-
nas o tribunal! Tem defeitos, como também virtudes, como qualquer
grupo humano. Dele emergem decisões preciosas que merecem ser se-
guidas e outras não. É composto de alguns competentes e outros não,
uns sérios e outros não, uns trabalhadores e outros não. Ou seja, é com-
posto de homens com toda a sua dimensão e, como tais, e não como
“pais”, devem ser vistos.
Esse filho chega à real independência do tribunal e segue seu ca-
minho para além da vontade “paterna”. Está disposto a ousar e a criar,
quer o pai aplauda, quer não. Seu compromisso não é com a carreira, ou
agradar o pai, mas sim colocar sua atuação a serviço do jurisdicionado.
Evidentemente que este juiz, que é razoavelmente livre, causa
mal-estar no tribunal que se julga pai. É a sensação de perda que o ge-