

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 63 - 75, jan - fev. 2015
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ra não confia na Polícia. Perde apenas para a confiabilidade nos partidos
políticos, cuja rejeição atinge 95% dos brasileiros. Nos Estados Unidos,
88% da população confia em seus policiais
11
.
Segundo Misse, “uma significativa parcela de jovens pertencentes
aos segmentos subalternos do Rio de Janeiro teme e odeia a Polícia. (...)
Uma força ilegal paradoxalmente revestida da força da lei. (...) E seguindo
a mesma lógica da produção da sujeição criminal, foi tornada ‘estrangei-
ra’: os policiais viraram os ‘alemão’, os inimigos mortais, representados
como cruéis, arbitrários, desleais, corruptos, servis em relação aos ‘baca-
nas’. (...) O problema da violência é a polícia (MISSE, 2008: 30). Portanto,
de acordo com o autor, hoje, “toda a corporação policial parece ter sido
atingida pela desconfiança” (MISSE, 2008: 30).
O Instituto Sangari, em recente análise, acerca do homicídio no Bra-
sil, tomou como referência a cor/raça, o sexo e o lugar de moradia das
vítimas. Assinalou que, no Estado do Rio de Janeiro, no intervalo de 2002
a 2008, foram assassinados 96% mais jovens negros do que brancos, com
grande incidência nas favelas cariocas (INSTITUTO SANGARI, 2012: 55 -
67)
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. O mapa da violência apontou que 53,3% dos quarenta e nove mil e
novecentos e trinta e dois mortos eram jovens vítimas de homicídios em
2010; dos quais 76,6% eram negros e 91,3% homens. Então, estima-se
que um jovem negro tenha 2/3 a mais de chances de ser assassinado do
que um branco
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, como também a expectativa de vida dos homens se re-
duz para, no mínimo, menos um ano e quatro meses. Afinal, cento e três
jovens são mortos por ano, a cada cem mil habitantes.
Alémdisso, emmaio de 2012, a Anistia Internacional revelou pesqui-
sa referente a 2011, a qual deduziu que “as mortes no Brasil, somente no
Estado do Rio de Janeiro, aproximam-se das do somatório dos vinte países
que mais aplicam a pena de morte
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(à exceção da China, que não fornece
seus dados), com destaque para: Irã, Arábia Saudita, Iraque, Iêmem e
Estados Unidos. Em 2011, oficialmente, foram executadas, em vinte
11
Anuário Brasileiro de Segurança Pública
. Ano 7, 2013. Disponível em:
http://www.midianews.com.br//storage/webdisco/2014/03/03/outros/343168dc26c081905ba5cd7b640e8a62.pdf Acesso em: novembro de 2013.
12 Instituto Sangari.
Mapa da violência 2011
: os jovens do Brasil. Brasília: Ministério de Justiça, 2012.
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Jornal Extra
– Rio de Janeiro. “Violência afeta mais jovem negro”. Rio de Janeiro: 20 de agosto de 2013.
14 Cumpre salientar que, há ainda mais de dezoito mil prisioneiros que estão aguardando a execução, nos corredo-
res da morte, nos vinte países.