Background Image
Previous Page  532 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 532 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 526- 534, jan - fev. 2015

532

Nessa marcha, o melhor entendimento seria o de oportunizar à de-

fesa a possibilidade de também emitir o seu parecer nos recursos.

Tal ato acabaria com questionamentos sobre a posição hierárquica

inferior da defesa nos processos criminais.

A Defensoria Pública, organizada em quase todos os Estados e tam-

bém na União, deve ser o órgão legitimado para se manifestar junto aos

tribunais, tanto nos recursos interpostos nos tribunais de justiça e tribu-

nais regionais federais, quanto nos tribunais superiores, onde o Ministério

Público continua a lançar seus pareceres.

Como dito no capítulo anterior, a Constituição Federal e a Emenda

Constitucional 74 aumentaram as funções da Defensoria Pública, incre-

mentando sua participação na vida da República.

Faz tempo que a Defensoria já atua de algum modo nos tribunais,

mas não foi ainda elevada à condição de emitir peça tão importante para

o deslinde da causa, como é o parecer.

Os problemas práticos que se apresentam em função da participação

maior do Ministério Público nas demandas nos tribunais são inúmeros.

Pense-se em um caso de vítima abastada, com situação financeira

extremamente favorável, e no réu, por sua vez, hipossuficiente (tão co-

mum na nossa sociedade).

A vítima ou sua família se habilitam como assistente de acusação,

contratando advogado, ao passo que o acusado, pobre, não tem condi-

ções financeiras para arcar com os honorários de advogado.

Em primeiro grau, já existe um promotor para acusar, juntamente

com o assistente de acusação.

O réu se defende com seu competente e combativo defensor.

Em caso de condenação, o acusado recorre. O processo desce para

contrarrazões do Ministério Público e depois do assistente de acusação.

Quando retorna para a segunda instância, receberá um parecer de um

procurador de Justiça ou de um procurador regional da República, que pos-

suem, como já dito, o mesmo DNA daquele que atuou na primeira instância.

Ora, nada mais ignominioso, aviltante e antidemocrático.

A posição desse acusado é amplamente inferior ao do órgão da

acusação.

Se é assim, não parece haver motivos que justifiquem que o

par-

quet

elabore o seu parecer e a defesa não.