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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015

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antigos impérios percebidos de dentro como mundos abran-

gentes. [...] Na Europa, o cisma confessional e a seculariza-

ção da sociedade compeliram a crença religiosa a refletir so-

bre seu lugar não exclusivo dentro de um discurso universal

compartilhado com outras religiões e limitado pelo conheci-

mento secular gerado cientificamente [...] [Sobre o contex-

tualismo] eu explicaria as características congeladas de tal

mentalidade em termos de repressão das dissonâncias cog-

nitivas palpáveis. A repressão ocorre quando a inocência da

situação epistemológica de uma perspectiva mundial abran-

gente é perdida, e quando, sob as condições cognitivas de co-

nhecimento científico e pluralismo religioso, propaga-se um

retorno ao exclusivismo das atitudes de crença pré-modernas

(HABERMAS

in

BORRADORI, 2004, p. 43, 44).

É absolutamente notável, no entanto, que a ética da discussão ou o

agir comunicativo, filosofias que partem de uma antropologia que vincula

o homem e a razão à linguagem, não se debruce, finalmente, sobre o pro-

blema das línguas e das

diferenças

entre línguas, problema tão caro à Ja-

cques Derrida. Em

O monolinguismo do outro

(DERRIDA, 2012), Derrida

rejeita a possibilidade, como já havia feito igualmente Jacques Lacan, de

uma “metalinguagem absoluta” ou de uma posição metasituada capaz de

abordar a relação entre línguas. Uma língua

fora

das línguas faladas, pura

língua de origem ou língua

primeira e autêntica

, nunca esteve e não está

disponível a nenhum falante. Evidentemente, tal posição “metalinguísti-

ca” é recorrentemente reivindicada inevitavelmente em

línguas específi-

cas

; nas línguas faladas pelos “falantes”.

A reivindicação de uma

língua de origem

, língua pura ou originária,

é um gesto que o mundo viu se encarnar nas várias e brutais formas de

colonialismos que ainda tomam o planeta. Mais precisamente na figura

do colonizador que reivindica “sua língua” como sendo

a

língua

enquanto

tal

, modelo da língua – agora apropriada também pelo colonizado – tal

como ela

deve

ser falada. Mas não há apenas isso. A posição metalin-

guística não é notável apenas nas formas violentas e antidemocráticas da

apropriação colonial, mas é sustentada igualmente pelos discursos que

pretendem descrever uma comunicação de um ponto de vista

universa-

lista

, isto é, de um ponto de vista que

transcenda

todas as línguas especí-