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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015

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dicamos

a democracia a partir da democracia e no interior de governos

democráticos

. A democracia, portanto, está infinitamente aberta para seu

outro, para sua própria perfectibilidade, para a mudança. Por isso, Derrida

dirá que toda democracia será sempre uma

democracia por vir

, uma de-

mocracia que comporta em si mesma a diferença em relação a si.

Todas as outras formas de regime político conhecidas – oligarquias,

monarquias, aristocracias, colonialismos, etc. – não são capazes, precisa-

mente, de incluir em si mesmos aquilo que move a própria democracia, a

saber: a aceitação de sua própria historicidade, mutabilidade e diferença.

Isto é, de seu

por vir.

Sobre esta questão, Derrida é claro sobre sua própria

leitura do laço entre democracia e Estado:

O conceito de democracia, o nome, são primeiramente de

cultura grega, ninguém pode negá-lo; dizer isto não é fazer

um geocentrismo, ou etnocentrismo, ele vem primeiro em

cultura grega. Mas a cultura grega associou, desde o início,

o conceito de democracia a conceitos dos quais, hoje, a de-

mocracia por vir tenta se libertar: o conceito de autóctone,

isto é, de nascimento no solo, de pertencimento pelo nasci-

mento, o conceito de território, o próprio conceito de Estado.

Não tenho nada contra o Estado, não tenho nada contra a

cidadania, mas ouso sonhar com uma democracia que não

esteja simplesmente ligada ao Estado e à cidadania. E é nes-

sa condição que se falará de uma democracia universal, uma

democracia que é não somente cosmopolítica, mas universal.

Certamente, o cosmopolitismo é uma noção muito respeitá-

vel, mas ela apela à noção de Estado e de política ligada à

polis como Estado-nação e territorialidade. Mais além dos

cosmopolitismos, há uma democracia universal, que se con-

duz muito além da cidadania e do Estado-nação

(DERRIDA

apud

CHÉRIF, 2013, p. 48, 49).

Em sua leitura da problemática filosófica da democracia, Derrida

encontra a leitura que Habermas faz do pensamento sobre o cosmopo-

litismo de Immanuel Kant. Se Habermas compreende a relação demo-

crática entre Estados no plano internacional a partir do consenso (e re-

conciliação) praticado a partir de acordos e tratados cosmopolitas entre

Estados-nação, Derrida, por outro lado, vai apontar que a perfectibilidade