

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 488 - 506, jan - fev. 2015
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A cada vez que eu abro minha boca, estou prometendo algo
quando falo com você. Estou dizendo a você que eu prometo
dizer algo, dizer a você a verdade. Mesmo se eu mentir, a
condição da minha mentira é que eu prometi dizer a verda-
de. Portanto, a promessa não é apenas um ato de fala entre
outros; todo ato de fala é fundamentalmente uma promessa
(DERRIDA
in
CAPUTO, 1997, p. 22, 23).
Derrida não reivindica a unidade ou reconciliação que garanta a
unidade de uma língua pautada em regras racionais, mas aposta na pro-
messa da vinda do outro presente em toda relação entre línguas. Ora, o
monolinguismo efetivo, o monolinguismo do consenso
superaria a dife-
rença que dissolveria o outro como alteridade
. Se levarmos a hipótese de
uma “comunicação” a sério, será preciso admitir tal monolinguismo ape-
nas enquanto
promessa
, como porta aberta para a vinda do
outro,
como
ummonolinguismo do
outro
. “O
de
não significa tanto a propriedade, mas
a procedência: a língua está no outro, vem do outro, é a vinda do outro”
(DERRIDA 2012, 109). Tal promessa da vinda do outro permanece como
promessa aberta, onde toda tentativa de apropriação equivale à própria
supressão da alteridade.
A democracia por vir
Essa forma de pensar a alteridade coloca problemas imediatos para
a própria compreensão de democracia hoje. Derrida rejeita deliberada-
mente a compreensão da democracia como uma espécie de modelo de
governo ou de poder popular que deve ser aplicado e alastrado a todos
os povos, possibilitando a inclusão de todas as formas de alteridade em
tal modelo. Conforme dito acima, toda tentativa de apropriação do outro
é equivalente à supressão da própria possibilidade da alteridade. Portan-
to, pensando a democracia a partir do problema da diferença, Derrida
defenderá a ideia de que a democracia se apresenta como a única forma
de governo que não possui um modelo (nem mesmo o grego antigo). A
democracia é uma espécie de modelo sem modelo; isto é,
em nome da
democracia
reivindicamos que atitudes, políticas, leis, justiça
sejam de-
mocráticas
. O que equivale a dizer que a democracia nunca é idêntica a si
mesma, nunca está presente a si própria, nunca é “senhora de si”. Reivin-