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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 442 - 452, jan - fev. 2015

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ver ali a luta de classes e por uma direita que aposta tudo na especulação

imobiliária e no assalto ao orçamento público

6

. Maricato aponta ainda

para o fato de que é com a condição dos transportes que as cidades aca-

bam cobrando a maior dose de sacrifícios de seus moradores e que, por-

tanto, o mais urgente item de uma política urbana seria a reforma política.

O geógrafo marxista David Harvey faz também uma interessante

análise sobre a questão urbana que explicaria as manifestações recentes.

Segundo Harvey, vivemos em cidades divididas, fragmentadas e tenden-

tes ao conflito, fruto de uma globalização e de uma guinada em direção

ao neoliberalismo que enfatizou as desigualdades

7

. Harvey fala de um di-

reito à cidade que estaria sendo negado, direito este não no sentido de

um simples direito de visita às cidades mas um direito à vida urbana, um

direito de mudar a cidade de acordo “com o desejo de nossos corações”

8

.

Nas cidades, as solidariedades sociais teriam sido substituídas pela anar-

quia do mercado. O que levou milhares de pessoas às ruas, na visão de

Harvey, seria a necessidade de criação de novos espaços urbanos comuns,

de uma esfera pública de participação democrática e necessidade de se

pensar uma cidade mais inclusiva, longe da onda privatizante - mantra

do neoliberalismo. Precisamos reconhecer o direito à cidade como um

direito “ativo de fazer a cidade diferente, de formá-la mais de acordo com

nossas necessidades coletivas”

9

.

As ideias de Harvey vão ao encontro daquilo que foi pensado pelo

Movimento Passe Livre – São Paulo. Segundo o MPL “num processo em

que a população é sempre objeto em vez de sujeito, o transporte é or-

denado de cima, segundo imperativos da circulação do valor, excluin-

do a população da organização de sua própria experiência cotidiana da

metrópole”

10

. E foi justamente dessa exclusão urbana que surgiu o Movi-

mento Passe Livre, que luta contra o aumento da tarifa de ônibus. A partir

da experiência da primeira manifestação popular contra o aumento da

tarifa de ônibus em Salvador (revolta do buzu), em 2003, diversas outras

manifestações foram organizadas e realizadas pelo Brasil. Por exemplo, a

6 MARICATO, Ermínia.

Cidades Rebeldes

: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo,

Boitempo. 2013, p. 19.

7 HARVEY, David.

Cidades Rebeldes:

Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo, Boi-

tempo. 2013, p. 28.

8

Idem

, p. 28.

9

Idem

, p. 33.

10 "Movimento Passe Livre" – São Paulo.

Cidades Rebeldes:

Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do

Brasil. São Paulo, Boitempo. 2013, p. 14.