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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 39 - 53, jan - fev. 2015

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“A inscrição da Lei, indicado no Complexo de Édipo é substituída por

identificações, formando a instância do

supereu

, trilhado pela autoridade

Paterna e a proibição do

incesto

, que acabam se transformando em im-

pulsos de afeição movidos pela ameaça de castração e do

falo

remanesce.

Mas esse objeto

imaginário

capaz de dar conta da completude, uma vez

interditado pela intervenção Paterna, protrai os efeitos, possibilitando,

todavia, sua inscrição na ordem do desejo de gozar tudo (im) possível”.

21

A resolução do Complexo de Édipo esclarece a relação existente en-

tre a superação da hostilidade do pai e a operação psicológica ligada ao

recalque. Diante da crise resolutiva do complexo, algum tipo de resultado

é produzido, e esta coisa é precisamente a formação do

supereu

.

A trajetória que vai da chegada do pai à resolução do Édipo é, por-

tanto, correlativa à inscrição permanente da lei, embora lá esteja como

recalcada no inconsciente. O que fica para trás de todo este processo é a

criação do

supereu

, o primeiro contato do sujeito com a sua própria ins-

tância de tirania. E é assim que este

supereu tirânico

, diria Lacan, “repre-

senta por si só o significante que marca, imprime, impõe o selo no homem

de sua relação ao significante”.

22

A obediência consentida dos oprimidos e o discurso do

mestre: de

Étienne de La Boétie

a

Jacques Lacan

“Mas o que acontece em todos os países, com todos os ho-

mens, todos os dias? Quem poderia acreditar, se só tivesse ouvido

e não tivesse visto, que um só homem oprime cem mil e os priva de

sua liberdade?”

Étienne de La Boétie.

A questão que interessa ao sentimento democrático é que este “pai

terrível” que, no final, será servilmente amado, embora seja apenas

uma

metáfora

23

,

terá o seu lugar efetivamente preenchido na realidade social.

21 ROSA, Alexandre Morais da.

Decisão Penal:

bricolage de significantes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 12.

22 LACAN, Jacques.

O Seminário,

Livro 4

:

relação de objeto. Rio de Janeiro: Zahar, 1995, p. 216.

23 LACAN, Jacques.

O Seminário,

Livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999, p. 180. “Uma

metáfora, como já lhes expliquei, é um significante que surge no lugar de outro significante. (...) A função do pai no

complexo de Édipo é ser um significante que substitui o primeiro significante introduzido na simbolização, o signifi-