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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 39 - 53, jan - fev. 2015

50

O discurso do mestre, portanto, elege o saber penal como a princi-

pal fonte de opressão e conservação da sua própria sobrevivência

50

. Neste

contexto, só resta desafiá-lo e fazer exatamente aquilo que Lacan disse a

respeito da histérica.

“A histérica instiga o mestre – personificado em um parceiro, pro-

fessor, ou quem quer que seja – até ao ponto em que ela passa a conside-

rar que falta saber ao mestre. Ou o mestre não tem explicação para tudo,

ou seu raciocínio não é lógico”

51

.

Olhando por este prisma, para desafiar o

mestre

e seu discurso

opressor de poder (latente no saber penal – o mais presente e fundamen-

tal meio de controle social) é preciso levá-lo ao embate com o discurso da

histérica, aqui entendido como aquele que “não busca cuidadosamente

reconciliar os paradoxos e as contradições (...), mas procura levar esses

paradoxos e contradições o mais longe possível”.

52

Conclusão

“O mestre nos comanda com nosso inconsciente, e os regula-

mentos que impõe servem primeiramente para balizar o lugar

que responde por isso. Existem graus na encarnação do signi-

ficante do domínio, a maior impostura equivalendo à tirania”.

Gerárd Pommier

in

Freud Apolítico?

A língua oficial do Estado tornou-se o principal agente da cultura

totalitária, um instrumento à manipulação dos sujeitos e disciplina dos

desejos singulares

53

.

50 Todo poder estatal autoritário se afirma e reafirma constantemente pela repressão criminal, não sendo outra a

razão pela qual o principal ato institucional da ditadura civil-militar brasileira (o AI 5) tratou logo de acabar com a

garantia fundamental do

Habeas Corpus

(art. 10).

51 FINK, Bruce.

O sujeito Lacaniano:

entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 164.

52 FINK, Bruce.

O sujeito Lacaniano:

entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 165. Explica Bruce

Fink que, embora a prática psicanalítica adote o discurso do analista, na teoria e no ensinamento da psicanálise

ocorre outra coisa. Na melhor das hipóteses, “o discurso psicanalítico,

da maneira como opera no edifício teórico

,

por outro lado, na medida em que trata com seriedade a Verdade – ao tentar formular o encontro com a causa real

– funciona de forma semelhante ao discurso da histérica”. FINK, Bruce.

O sujeito Lacaniano:

entre a linguagem e o

gozo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 174.

53 Perfeito, Warat leciona: “Minha preocupação, pelo contrário, está dirigida ao diagnóstico dos efeitos políticos

desta noção de sociedade. Por isso preciso recuperar a semiologia e a Psicanálise, situando a questão da conceitua-