

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 442 - 452, jan - fev. 2015
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Negri e Nós
Adriano Pilatti
Mestre em Ciências Jurídicas - Teoria do Estado e Di-
reito Constitucional pela Pontífica Universidade Ca-
tólica Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Doutor em Ciência
Política pelo Instiuto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro (IUPERJ), com Pós-Doutorado em Di-
reito Público Romano pela Universidade de Roma I -
La Sapienza. Sócio-fundador da Associação Brasileira
dos Constitucionalistas Democratas (ABCD).
Em nosso tempo, as categorias e instituições políticas característi-
cas da “modernidade” estão em crise. Democracia, representação, par-
tidos, sistemas de
welfare
, nada parece escapar à “fadiga dos materiais”
que contamina até as propostas de reforma que se apresentam. Mesmo
as rebeliões e insurgências metropolitanas dos últimos anos, apesar do
potente desejo de liberdade e igualdade que expressam, encontram li-
mites que frustram a construção de instituições e práticas alternativas. A
tragédia das revoluções do século XX, entre 1917 e 1968, malgrado os as-
pectos positivos que legaram, parece se projetar sobre todos os esforços
de transformação que temos testemunhado.
Como ultrapassar essa angustiante situação? Como evitar que a
potência constituinte dos oprimidos seja aprisionada nas jaulas do cons-
tituído? Como impedir que a ação política seja reduzida ao simulacro da
representação? Como pensar a constituição de um sujeito político que es-
cape à tentação do Uno e à tutela de vanguardas? O que pode nos ensinar
todo um acúmulo de derrotas?
Se temos a sensibilidade marcada pelo amor à vida e por uma ir-
renunciável solidariedade em relação a quem vive e padece as privações
e humilhações que nascem da desigualdade e da servidão; se ousamos
pensar a política a partir do antagonismo que opõe inconciliavelmente
os pequenos que desejam se liberar aos grandes que desejam oprimir; se
desejamos construir comunidade a partir do respeito às singularidades e