

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 419 - 434, jan - fev. 2015
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Tudo isso, dentro de uma aliança política entre um Partido nascido
das revoltas operárias do final dos anos 70, das pastorais católicas e dos
movimentos sociais com, vejamos nós, setores relevantes do empresa-
riado nacional frustrado com os descaminhos do capitalismo brasileiro.
Nada revolucionário, pois. Agora, como essa enorme articulação poderia
dar conta da balbúrdia inevitável dessas transformações sociais? A partir
da colocação dessa questão, é que começa a se desenhar a transição que
Lula, ele mesmo, coordena de forma centralizada e vertical, um adeus
ao Lulismo – o plano B do petismo – dentro do Lulismo, uma transição
coordenada, na forma de sua ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Nesse processo, o que menos importa são as personalidades en-
volvidas, não existem sujeitos históricos transcendentes, muito menos
pessoalmente transcendentes, mas é preciso indagar como personalida-
des imanentes ao processo histórico atuaram. E é nesse sentido que em
2011 as ambivalências dos oito anos iniciais parecem, afinal, se resolver
na forma dessa nova forma de governança ordeira, cuja grande meta é um
país pacífico – ou melhor, passivo – de classe média, no qual o capitalis-
mo científico, abastecido pelos fundos de pensão, e gerido tecnicamente
pelas melhores mentes promove o bem-estar da nação: o “
Brasil País de
Todos
” dá lugar ao “
País Rico é País sem Miséria
”.
Essa transição coordenada, da revolução política dentro da demo-
cracia para a normalidade da nova
Pax
, à qual o politburo petista não só
aderiu como levou a cabo com empenho, foi decidida à distância dos de-
sejos de sua base social e política. Afinal, era para o nosso bem. O pro-
gresso demanda ordem; a ordem, sacrifícios, como determina o mantra
brasileiro desde o final do século 19º. Era preciso pôr as coisas no trilho,
para que todos pudessem “melhorar de vida” sem abalos, sem soluços.
Ele quer o seu carro, sua casa, seus eletrodomésticos, viver uma vidinha
calcada nos valores do trabalho.
O próprio par
esperança-medo
, no momento em que se tornou ab-
soluto, virou vapor diante da ascensão de uma nova virtualidade: a dita-
dura da
segurança
, nacional, econômica, social e, afinal de contas, biopo-
lítica mediante a qual já não está mais jogo o que podemos ganhar, mas
o que vamos perder. O
homem de bem
demanda, pois, segurança. É o
momento no qual vivemos, pois, é aquele no qual o
Bolsa Família
tornou-
-se menos importante do que as
Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s)
–
e as UPP’s, por tabela, tornaram-se, assim, de um novo modelo possível