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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 419 - 434, jan - fev. 2015

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e poderiam até aumentar-lhes as vendas; mas não é disso que os negócios

se tratam, é de hierarquia, comando de corpos sobre corpos, mobilidade

de uns assentada na fixação de outros, de privação de propriedade, de

exclusividade, do meu mando sobre a sua vida. “Socialismo” e “Capitalis-

mo” como formas dos poucos terem tempo de vida às custas da negocia-

ção, da negativa ao sossego de muitos. O Brasil “pós-junho” nos mostra

como o socialismo de Estado e o capitalismo, já como os vimos na relação

perversa entre o stalinismo e fordismo, são na realidade as duas faces de

uma mesma desrazão: aquela de um “progresso” linear e teleológico que

acaba destruindo a própria vida.

Conclusões

Em junho acabou o período de transição que se abriu no fim dos

anos 1970, teve na Constituição de 1988 seu auge e nas ambivalências da

década de 2000 seu maior desdobramento. O potente ciclo constituinte

de direitos dos anos 70-80 e de efetivação de direitos na primeira década

do século 21º, não ocorreram sem a mediação do PMDB, a expressão

onipresente do cordialismo, do projeto misterioso de Estado e do Poder

Constituído do Brasil – pronto a neutralizar tudo o que for intenso.

Esse esgotamento não contém nenhum determinismo, mas abre a

uma alternativa:

por um lado

, o mais provável é a explicitação das dimen-

sões racistas, totalitárias e demofóbicas da elite: é o que estamos assis-

tindo nos presídios do Maranhão, nos anúncios do governo (centrais de

flagrantes) e leis (de exceção) que estão sendo discutidas para coibir as

manifestações democráticas. No entanto,

por outro lado

, temos a deflagra-

ção de um novo ciclo democrático, a prática de novos modos de existência

e novas estratégias de resistência. 2014 será o teatro desse embate.

O Brasil Maior está em convulsão

. As certezas garantidas e homo-

logadas a partir da verdade transcendente, e prescritiva, das pesquisas de

opinião – das quais emanam os rótulos conceituais dos cientistas e filóso-

fos régios –, das políticas de pacificação e do grande consenso político-ge-

rencial, com vistas à

conciliação entre classes

– o acordo entre agressores

e agredidos enquanto agressores e agredidos –

caíram por terra nos úl-

timos meses. Esse tripé, aliás, é a própria forma do Desenvolvimentismo,

a arte de governo pela qual se resolveu dar um jeito nas perturbações à