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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 419 - 434, jan - fev. 2015

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magistrado e isso por meio da construção de experiências de democracia

radical. A da resistência praticada nas manifestações do Rio tem uma di-

mensão ética que envergonha o sistema institucional brasileiro: a tortura,

as chacinas, os presídios e sua justiça injusta. Não houve nenhum tipo de

agressão física às pessoas, a proteção foi feita unicamente queimando lixo

e lixeiras e as destruições são simbólicas: caixa eletrônicos ou símbolos

do capitalismo multinacional(ou seja, figuras simbólicas estigmatizadas

no que sobre na retórica da esquerda, inclusive naquela do governo!). No

dia 20 de junho, na Avenida Presidente Vargas, manifestantes chegaram a

“passear” em cima do “caveirao”, a máquina mortífera da PM do Rio que

entra na favelas com sua caveira e semeando o terror. São cenas de liber-

tação sonhadas por milhões de jovens: os mesmos que agora dão um rolé

nos shopping Center. Muito raramente foram queimados carros e sempre

“de função” ou ônibus. “Nada” se comparado ao que as indignações po-

pulares fazem e continuam fazendo.

O que os manifestantes afirmaram foi a verdade do poder e aqueles

que adotaram a tática Black Bloc deram coragem a essa fala verdadeira:

eles disseram e dizem que por meio dos megaeventos, rios de dinheiro

comum foram, e são, usados para encher o bolso de alguns – sempre os

mesmos privados – e hierarquizar ainda mais a cidade; eles dizem que a

corrupção do poder não é desvio das regras mas seu pleno funcionamen-

to; dizem também que é possível lutar: ousar ter a coragem de produzir

verdade, isto é, narrar do ponto de vista, e da dor, dos oprimidos.

A verdade diz que o poder não produz nada, a não ser destruição

e dor: o poder é vazio, niilismo total. O poder diz, apenas e tão somente,

não! sem parar; ter poder é apenas exercer vetos, interditar fluxos que a

vida produz. A coragem de dizer essa verdade passa pela desconstrução

da violência estatal: cadê o Amarildo? A luta dos mascarados é amor e

construção da paz, da única verdadeira paz. Sem rostos, eles são o escu-

do, a

antimilícia

da classe sem nome.

(Não) Vai ter Copa?

O futebol é o esporte das multidões pelo mundo. Cria bastarda da

aristocracia britânica, ele se tornou o desporto dos operários de Man-