Background Image
Previous Page  418 / 590 Next Page
Basic version Information
Show Menu
Previous Page 418 / 590 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 411 - 418, jan - fev. 2015

418

juiz tem ressonâncias inquisitórias, ressonâncias do tempo do juiz inquisi-

dor, o juiz sem rosto, transcendente e inacessível. A identificação do juiz,

a

personalização

do tribunal, tem uma dupla função: por um lado,

dessa-

cralizante

(a justiça é administrada por homens comuns investidos demo-

craticamente naquela função) e, por outro,

responsabilizante

, na medida

em que expõe mais facilmente a decisão do tribunal ao juízo crítico da

opinião pública.

Isto implica que o juiz (bem como o magistrado do ministério públi-

co, para o qual valem igualmente as considerações expostas) esteja iden-

tificado na sala de audiências.

É inquestionável que o espaço e o ritual da audiência não são

indiferentes para a administração da justiça e que a sala de audiências

portuguesa típica não constitui um espaço que favoreça o princípio da

igualdade de armas ou respeite o princípio da presunção de inocência. O

espaço cênico não favorece um ritual democrático. Estranho é que esta

matéria tenha sido geralmente ignorada até hoje.