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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 291 - 305, jan - fev. 2015

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vidências em relação aos praticantes da vadiagem, que ficam nos semá-

foros prejudicando e, às vezes, praticando violência contra as pessoas’.

(...) Os policiais foram informados de que – a ação sendo legal – terão o

respaldo do Judiciário para minimizar os transtornos causados pelos pe-

dintes. Arimatéia afirma que há, sim, meios legais de coibir a presença de

desocupados nas ruas. ‘Eles praticam contravenção penal de vadiagem,

que exige reiteração. Os policiais sabem que se a pessoa for pega uma

segunda, terceira vez nesta mesma atividade, ela pode ser presa’”.

12

Já no dia 13 do mesmo mês, ficou assentada a participação do po-

der executivo local na repressão, através da secretária de ação social do

município, cujo secretário, à época, Roberto Nunes Rocha, que também

é advogado integrante da Comissão de Justiça, Cidadania e Direitos Hu-

manos da subseção de Franca da Ordem dos Advogados do Brasil, não

vislumbrava razões para as pessoas estarem nas ruas, eis que a sua pasta

oferecia a esta população amplo atendimento: “Um trabalho conjunto en-

tre órgãos policiais e a Secretaria de Ação Social da Prefeitura de Franca

(400 Km de São Paulo) quer tirar pedintes das ruas da cidade. (...)‘Temos

um trabalho amplo de atendimento, não justifica a pessoa estar nas ruas

pedindo dinheiro (...) Para aqueles que são criminosos [a ação é para]

resgatar também o lugar próprio deles, que não é na rua, é na cadeia’”.

13

Posteriormente, o então secretário lançou hipóteses com dignidade qua-

se científica para a situação de rua daquelas pessoas: “Segundo uma pro-

jeção do secretário de Ação Social de Franca, Roberto Nunes Rocha, é

possível afirmar que os pedintes ganham quatro vezes mais do que um

sapateiro. O piso salarial da categoria é de R$ 751,50. As esmolas rendem

aos moradores de rua até R$ 3 mil por mês, mais do que o dobro da média

salarial dos francanos que é de R$ 1.271 (...) O secretário confirma que as

pessoas ganham em esmola de R$ 80 a R$ 100 por dia. ‘Isso foi constata-

do. Não é estatística e nem previsão’”.

14

Em reação ao consenso que se formava em torno da legalidade e

legitimidade do discurso de higienização social, os membros da Defen-

soria Pública com atuação em Franca, em coautoria com o Padre Júlio

Lancellotti, da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, e com An-

derson Miranda, liderança do Movimento Nacional da População de Rua,

12

Comércio da Franca.

“Juiz cobra ação da polícia para tirar pedintes das ruas”. 1

o

de abril de 2012.

13

Folha de SP.

Cotidiano. “Franca (SP) põe em prática ação para tirar pedintes das ruas”. 13 de abril de 2012.

14

Comércio da Franca

. “Justiça nega

habeas corpus

para pedintes”. 1

o

de junho de 2012.